Presos por assalto ao cantor Péricles reclamaram de ‘calote’ de receptadores de carro em conversas: ‘Ninguém desfrutou nada, parça’

Discussões por Whatsapp foram identificadas pela Polícia Civil e ocorreram dias depois do crime, em fevereiro deste ano, em São Paulo. Na época, artista foi abordado na porta de casa da mãe dele, em Santo André, e teve o carro de luxo levado.

Os dois presos suspeitos pelo assalto ao cantor Péricles, em fevereiro, em Santo André, na região do ABC, discutiram por WhatsApp com receptadores do veículo que foi recuperado pela polícia em um desmanche em São Paulo.

Trocas de mensagens entre Guilherme Toshihiko Shiozuka e “Felipinho”, que era Felipe Lucas, mostram que os dois estavam “inconformados” por não terem recebidos os valores da venda do carro roubado por parte dos receptadores.

“O mano tá cobrando o dinheiro. Nós teve maior perca, mano. Você viu? Caiu o buraco, depois nós vê esse bagulho aí, mano. Nós não lucrou nada, perdeu o bagulho para a polícia, parça”, disse o áudio do possível receptador (veja parte das conversas mais abaixo).

O carro de luxo do cantor Péricles roubado por criminosos armados na frente da esposa e da filha, na noite de 16 de fevereiro, em Santo André. O automóvel foi encontrado desmontado e praticamente sem peças na manhã de sexta-feira (17), na Zona Leste de São Paulo.

Uma denúncia revelou que o veículo estava na Rua Arroio Rela, no bairro São Lucas. O carro era avaliado em aproximadamente R$ 300 mil, segundo policiais. O caso foi registrado como roubo a veículo no 2º Distrito Policial (DP), em Santo André, e investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Além do automóvel, os bandidos levaram também cartões bancários, documentos, e uma mochila com roupas das filhas de Péricles. Câmeras registraram o crime.

Os dois presos
A Polícia Civil prendeu em 22 de fevereiro Guilherme Toshihiko Shiozuka, de 23 anos, que confessou dirigir veículo usado no crime. Ele afirmou à polícia que vendeu o veículo por R$ 12 mil e dividiu o valor com Felipe Lucas de Oliveira. Felipe foi preso em abril com uma moto furtada.

Eles não tiveram acesso à conta bancária de Péricles. O local em que o carro foi “depenado” fica na região de uma das casas onde Guilherme dormia, que seria da companheira dele.

Guilherme detalhou que trocou as placas do carro usado no roubo e as jogou num córrego dias depois.

Mensagens entre Guilherme e ‘Felipinho’
No dia 18 de fevereiro deste ano, às 21h55, dois dias depois do roubo, Felipe encaminhou um áudio dos supostos compradores do carro reclamando que a polícia tinha achado o veículo no local de desmanche.

“O mano tá cobrando o dinheiro. Nós teve maior perca, mano. Você viu? Caiu o buraco, depois nós vê esse bagulho aí, mano. Nós não lucrou nada, perdeu o bagulho para a polícia, parça”, disse o áudio do possível receptador.

Segundo a polícia, “buraco” se refere ao local para desmanche de veículos roubados. Em um segundo áudio repassado por Guilherme a Felipe ainda de uma terceira pessoa em 20 de fevereiro, foi comentado sobre a repercussão do caso.

“Você viu aí a repercussão que tá tendo aí. Os cara tudo na nossa bota, tá moiado para nós aí. Quer receber o que, irmão? Fala para ele que o bode caiu, parça. Ninguém desfrutou de nada. Todo mundo se f***.”

No mesmo dia, a discussão sobre a negociação continuou com mais áudios encaminhados de terceiros.

“Eu sei, parça, mas o bagulho caiu. Todas as vezes que caiu lá, os caras não cobrou nós, não. Da vez que nós vendia carro para os caras, caía buraco e nós nunca pegou dinheiro. Você tá com nós, estamos dando a peça [termo usado para arma de fogo], para você estar na quadrilha, pai”, afirmou o áudio de Guilherme encaminhado para “Felipinho”.

“Ali o carro caiu, parça, ninguém desfrutou de nada. E como nós vai pagar um bagulho que nós não ganhou dinheiro?” completou.

A dupla chegou a comentar sobre pertences roubados e que foram encaminhados para “avaliadores” para venda.

“Vê lá aqueles outros bagulho que veio lá, que já vou encostar ali em um parceiro que é avaliador dessas caminhada. Já vou levar para ele”, falou Guilherme.

Moto furtada
Felipe foi preso em 27 de abril com uma moto furtada estacionada na frente de casa, em Mauá, na Grande São Paulo, quando os policiais civis cumpriram um mandado da investigação de Péricles.

O dono da moto deu falta da motocicleta em 4 de janeiro, em São Caetano do Sul, depois de ter estacionado na frente do local trabalho.

Ele confessou aos policiais civis durante a abordagem que não tinha documentação do veículo e que tinha recebido de outra pessoa. Em 12 de maio o Ministério Público o denunciou por receptação.

Quem é Péricles
Péricles é uma das referências nacionais do pagode, tendo integrado o Exaltasamba, grupo que surgiu em 1982 em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

“Nós fomos assaltados, foi horrível. Mas todo mundo está sujeito, e eu não sou melhor que ninguém. É vida que segue, vamos simbora. Deus é maior, e a gente não sabe de nada”, disse Péricles, dias depois, quando foi ouvido pela imprensa no Sambódromo do Anhembi.

Integrante da equipe
Edu Pachará, de 32 anos, integrante da equipe do músico Péricles, morreu após ter sido agredido em um posto de gasolina em Mauá, na Grande São Paulo, na noite do último domingo (14).

A SSP informou também que o caso foi registrado como lesão corporal seguida de morte pelo 1º Distrito Policial de Mauá.

“As investigações estão em andamento para identificar o autor. Além disso, ressalta-se que a natureza criminal pode mudar no decorrer do inquérito, sem prejuízo às investigações”.

By Ewerton Souza

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