Em 14 de maio de 2021, o delegado de policia Luiz Carlos Silva Santos, da 3ª Delegacia- DICCA, instaurou inquérito para investigar o casal Leila Pereira – presidente do Palmeiras – e José Roberto Lamacchia, além da CREFIPAR, empresa ligada à Crefisa e a FAM, da qual são únicos proprietários.
A denúncia é do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Os indícios apontam para lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e sonegações de impostos.
A portaria inicial, assinada pelo delegado Luiz Carlos, resume bem o que estaria acontecendo:
“Chegando ao meu conhecimento, pelas vias hierárquicas, o Relatório de Inteligência Financeira n.º 58611 elaborado pelo COAF, encaminhado à Polícia Civil por difusão, através do LAB-LD”
“O Relatório de Inteligência Financeira, aponta movimentações financeiras comunicadas pelos setores obrigatórios, relacionadas as pessoas de LEILA MEJDALANI PEREIRA, JOSÉ ROBERTO LAMACCHIA e CREFIPAR PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS S/A”
“Segundo consta do RIF, os investigados teriam realizados operações de saques em espécie, de valores expressivos e de forma fracionada, sem causa aparente, inclusive com indícios de burla ao sistema, perfil que dificultaria a identificação da destinação real dos recursos e, outras operações consideradas atípicas”
“Isto posto, DECLARO instaurado o competente Inquérito Policial, com o objetivo de apurar, em tese, a pratica do Crime de Lavagem ou Ocultação de Bens e Valores”
O Blog do Paulinho teve acesso à integra do relatório do COAF, indicando não apenas as supostas movimentações atípicas do casal, mas também seus possíveis facilitadores.
Entre os repasses listados estão:
- Tuddo Comunicação – empresa de Olivério Junior, assessor de Leila Pereira, com recebimento de R$ 217 mil;
- Mancha Verde, que embolsou R$ 516,6 mil (R$ 242,5 mil + R$ 274,1 mil);
- Guilherme Augusto Sanches Ribeiro, com R$ 300 mil em duas parcelas de R$ 150 mil (à época dos repasses, diretor administrativo do Palmeiras e filho do vice-presidente Jesse Ribeiro).
Diz o COAF (trechos selecionados pelo blog):
“José Roberto Lamacchia (1º titular), possui renda mensal de R$ 500.000,00 e Leila Mejdalani Pereira (2ª titular, cônjuge), advogada, renda mensal de R$ 300.000,00, conforme informações cadastradas na instituição financeira”
“José Roberto Lamacchia e Leila Mejdalani Pereira possuem domicílio fiscal em São Paulo/SP e são sócios da empresa Crefipar Participações e Empreendimentos S.A., holdings de instituições não financeiras, constituída em 10/10/1972, com capital social de R$ 2.742.948.105,65”
“Conforme relato, na movimentação em conta de José Roberto Lamacchia e Leila Mejdalani Pereira, teriam sido realizadas operações de saques em espécie, de valores expressivos e de forma fracionada, sem causa aparente, inclusive com indícios de burla, perfil que dificultaria a identificação da destinação real dos recursos.
“Leila Mejdalani Pereira e José Roberto Lamacchia constaram como titulares de 3 comunicações de operações suspeitas, no período de 02/07/2018 a 10/09/2020, conforme tabela resumo a seguir:”
“No período de 02/07/2018 a 03/10/2018, os créditos recebidos na conta de José Roberto Lamacchia e Leila Mejdalani Pereira somaram R$ 6.788.146,00, sendo seu principal remetente a empresa Crefipar Participações e Empreendimentos S.A”
Guilherme Ribeiro
“No mesmo período, constou como favorecido de recursos a conta de campanha Eleição 2018 Guilherme Augusto Sanches Ribeiro Deputado Federal, com o valor de R$ 300.000,00”
“Ocorreram saques em espécie no total de R$ 471.747,00, com operações em valores que teriam levantado a suspeita de tentativa de burla ao limite de identificação, conforme algumas transações demostradas abaixo:”
“Entre 04/10/2018 e 11/12/2019, também constaram diversos saques em espécie com valores abaixo de R$ 10.000,00, na conta de José Roberto Lamacchia e Leila Mejdalani Pereira, na aparente tentativa de burlar a identificação dos intervenientes, a saber:”
“Segundo informações em mídia, José Roberto Lamacchia teria sido condenado por desvio em associação, conforme parte da reportagem reproduzida abaixo:”
“O dono da Crefisa, uma das maiores financeiras do país, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo numa ação que apura desvios milionários de uma organização sem fins lucrativos”
“O empresário José Roberto Lamacchia é acusado de manipular o estatuto para forçar o fechamento e sumir com todo o patrimônio da entidade.” 20/06/2018″
(…) Os débitos, em igual período, totalizaram R$ 26.736.231,80, sendo R$ 14.809.529,79 pagos pela compensação de 455 cheques, R$ 3.191.138,07 utilizados para pagamentos diversos, 363 transações, R$ 2.435.214,00 constando como sacados em espécie, 290 retiradas, R$ 396.265,46 em gastos com cartão(ões) de crédito e débito, R$ 4.970.556,17 destinados para quitação de 316 TEDs, DOCs, transferências e depósitos em contas”
“Demonstramos os principais favorecidos: (o Blog do Paulinho destacou os mais relevantes)”
- G R E S Mancha Verde: R$ 242,5 mil
- TUDDO Comunicação (Olivério Junior): R$ 217 mil
“Demonstramos abaixo as movimentações em espécie (saques) com valores abaixo de R$ 10 mil, aparentemente na tentativa de burlar a identificação dos intervenientes:”
“Jose Roberto Lamacchia, CPF xxxxxx-91 figura como sócio na empresa Crefipar Participações e Empreendimento, CNPJ 44953545/0001-98, renda mensal de R$500.000,00.
“2º TITULAR: Leila Mejdalani Pereira, CPF xxxxxx-87 (esposa), consta trabalhar como advogada na empresa Crefisa S/A, CNPJ 60779196/0001-96, com renda mensal de R$300.000,00”
“Trata-se de fundador do grupo Crefisa e seu cônjuge Leila Mejdalani Pereira, atual presidente do grupo”
“Não podemos desconsiderar que apesar da movimentação estar dentro da capacidade financeira do cliente, tem realizado diversos saques em espécie com valores abaixo de R$ 10 mil, na aparente tentativa de burlar a identificação dos intervenientes”
“Entre 04.10.2018 e 11.12.2019, realizou aplicações em fundos de investimento totalizando R$ 1.800.039,65”
“Ocorrências:
– Mercado de Fundos de Investimento
“I – Operações cujos valores se afigurem objetivamente incompatíveis com a ocupação profissional, os rendimentos e/ou a situação patrimonial/financeira de qualquer das partes envolvidas, tomando-se por base as informações cadastrais respectivas. Instrução CVM nº 301 de 16/04/1999”
“Já comunicado em 26.06.2017, 12.11.2018 e 18.12.2019 (…) os débitos, em igual período, totalizaram R$ 12.886.714,04, dos quais R$ 1.496.345,70 utilizados para pagamentos diversos, 235 transações; R$ 1.198.626,00 constando como sacados em espécie, 141 retiradas, R$ 6.194.231,14 pagos pela compensação de 222 cheques (por meio de diversos cheques, sem concentração de favorecidos, de valores entre R$150.000,00 e R$150,00) e R$ 3.461.790,46 destinados para quitação de 310 TEDs, DOCs, transferências e depósitos em contas, dos quais:”
– Gre S Mancha Verde (R$ 274.1 mil)
O Blog do Paulinho poupará o leitor das demais páginas do relatório do COAF, que seguem detalhando o comportamento suspeito do casal.
Em 17 de junho de 2021, o inquérito foi remetido à 4ª Delegacia de Crimes contra a Fazenda, que despachou-o, em sequência, ao Foro Criminal da Barra Funda.
Na 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, o Ministério Público de São Paulo concordou com a dilação de prazo para aprofundamento das averiguações.
Novo pedido de prorrogação ocorreu em 07 de dezembro de 2021, há pouco mais de um mês, com nova anuência da promotoria.
Leila Pereira já era Presidente do Palmeiras.
A investigação, neste momento, segue em curso, aguardando diligências e possíveis quebras de sigilos.
Antes das eleições, a então candidata a Presidente prometeu mundos, fundos e até centroavante de ponta para o torcedor palestrino; entregou um gestor de comunicação e marketing ligado a cartolas do Corinthians, uma postagem em rede social colocando-se como mais importante do que a agremiação e o nome do Palmeiras, desde hoje, nas páginas policiais.
O relatório do COAF, além de lançar suspeitas graves sobre o casal da Crefisa, é esclarecedor sobre as razões que impedem Leila de se indispor com Olivério Junior e da conveniente passividade da Mancha Verde.
Procurados, Olivério Junior, Mancha Verde, Leila Pereira e José Roberto Lamacchia, até o momento da postagem, não retornaram.
Não conseguimos contato com Guilherme Augusto Sanches Ribeiro.
O espaço segue aberto, a qualquer tempo, para as manifestações de todos os citados na matéria.