SÃO PAULO – Com as medidas de isolamento necessárias para conter o impacto do coronavírus se concentrando no segundo trimestre, a expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do período, a ser divulgado nesta segunda-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) às 9h (horário de Brasília) também mostre um tombo considerável.
Contudo, em meio aos indicadores de que a retomada da atividade brasileira está se dando em um ritmo mais rápido do que o esperado, ao menos na maioria dos setores, os investidores também estarão de olho em mais sinais que podem reforçar que a volta da economia realmente está se dando de uma forma sustentável.
Conforme aponta o Morgan Stanley, na América Latina em geral, os dados de crescimento da economia latino-americano acabaram sendo piores do que as previsões mais negativas. A exceção fica justamente com o Brasil, em que a perspectiva parece ser mais promissora, “provavelmente devido ao programa de transferência de renda considerável (auxílio emergencial), que está mantendo o consumo resiliente até agora”, além das medidas de flexibilização antes do esperado. Os economistas apontam que medidas mais amplas de restrição parecem insustentáveis no Brasil (e na região como um todo), dada a alta informalidade da economia.
Com isso, o Brasil foi o único país da região em que os economistas do banco revisaram as suas projeções de crescimento para 2020 para cima, passando de queda de 7,2% para baixa de 5,1% (veja mais previsões clicando aqui).
A expectativa do banco americano é de uma queda de 9,5% do PIB no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses do ano – quase metade da baixa observada no México de 17,1% na mesma base de comparação – e baixa de 10,2% frente igual período de 2019.
Segundo mediana do consenso Bloomberg, a estimativa é de queda de 9,2% na base trimestral, após baixa de 1,5% no primeiro trimestre. A queda deve ter sido de 10,6% na comparação anual, segundo a pesquisa.
Para a equipe de análise econômica do Bradesco, a baixa deve ter sido menor, de 8,9% no último trimestre. “O dado deve refletir a retração do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo, refletindo as medidas de distanciamento social e o elevado nível de incertezas do período”, avaliam os economistas.
Também vendo queda menos expressiva, a XP Investimentos espera uma baixa de 8% do PIB na base trimestral, atenuada pela agropecuária, setor este impulsionado pelo bom momento da demanda internacional, sobretudo da China, e pela depreciação do real (de 21% ao ano). Assim, a expectativa é de expansão de 1,1% para o setor agropecuário na comparação com o primeiro trimestre desse ano e de 2,3% na comparação com o segundo trimestre do ano passado.
“Na comparação com o mesmo período de 2019, esperamos que o PIB do segundo trimestre de 2020 apresente contração de 9,8%. Já na comparação com o primeiro trimestre desse ano, projetamos queda de 8%, puxada principalmente pela indústria de transformação (-15,9%), outros serviços (-18,9%) e formação bruta de capital fixo (-20,2%)”, avalia a equipe de análise econômica da XP.
Mais pessimista, a SulAmérica avalia que o PIB deve ter sofrido queda de 9,5% na comparação trimestral, o que representa recuo de 10,2% em relação a igual período de 2019. “Pela ótica da oferta, a produção agrícola deve mostrar crescimento positivo no período, enquanto a indústria e os serviços devem amargar quedas significativas, em base trimestral”, aponta.
Próximos passos
Daqui para frente, os economistas do Morgan avaliam que a eventual redução dos valores pagos por meio do auxílio emergencial deve limitar o ritmo de recuperação do consumo. Contudo, avaliam que a atividade deve continuar melhorando gradativamente à medida que o setor de serviços se recupera.
Além disso, o setor externo deve continuar elevando as perspectivas de crescimento, em linha com a visão dos economistas de uma recuperação em forma de V da economia global. Soma-se a isso a avaliação do banco de que a demanda interna deve se beneficiar das taxas de juros mais baixas. A preocupação com a questão fiscal existe – contudo, apontam, maiores gastos podem ser compensados com algum progresso na reforma tributária nos próximos meses.
“No entanto, ainda vemos uma recuperação gradual – esperamos que a economia do Brasil volte aos níveis anteriores à Covid-19 no segundo trimestre de 2022”, apontam, ante previsão anterior de volta no quarto trimestre de 2023.
Também atento à questão fiscal, o UBS avalia que, se por um lado, a economia vem apresentando um padrão de recuperação em “forma de V” – com dados de alta frequência mostrando a atividade geral mais próxima dos níveis pré-pandêmicos, por outro lado a queda da atividade no segundo trimestre mais todos os estímulos fiscais podem conduzir a déficit público para cerca de 15% do PIB e a dívida bruta acima de 95%.
“Atualmente, esperamos que o PIB de 2020 caia 5,5%, com potencial para um declínio menos intenso. Já 2021 pode ter apenas uma recuperação limitada, de 3%”, avaliam os economistas do banco.
Assim, os economistas seguirão monitorando as questões fiscais – na véspera, foi apresentada pelo governo a proposta de Orçamento de 2021 – e também os dados mais recentes da atividade brasileira. Além disso, conforme aponta o Bradesco, a semana terá a divulgação de emplacamento e produção de veículos de agosto, o que também permitirá avaliar o ritmo de crescimento do trimestre atual.
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