Médicos brasileiros respondem a editorial da revista científica Lancet que criticou as ações do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19. Para Mauro Pontes e Júlio Pereira Lima, que trabalham no Hospital Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a publicação é decepcionante e desinforma. Em carta enviada com o apoio de outros 20 colegas da área, os médicos dizem que o texto tem viés partidário e que as críticas foram mais duras ao Brasil do que com outros países. Em entrevista à Jovem Pan, Júlio Pereira Lima destacou que a revista inglesa é considerada a uma das mais importantes da medicina — mas repudiou o fato de ter se apegado à política. “Não tem um mês, porque essa revista é semanal ou quinzenal, que essa revista não tenha um editorial político. Em fevereiro de 2019, o Bolsonaro assumiu em 1 de janeiro, eles já previam que o Bolsonaro ia destruir com o SUS, fala mal do Mandetta e que o Brasil ia aumentar a tuberculose em fevereiro de 2019. Ele sugere que a população vá às ruas, causando aglomerações, para tirar o governo. Ou seja, um revista inglesa fazendo um editorial disso, então achamos ridículo isso.”
O texto enviado pelos médicos defende medidas tomadas pelo governo brasileiro, como a criação de leitos de UTI, além da compra de equipamentos de proteção e ventiladores. Os especialistas afirmam, ainda, que o Lancet não publicou nada contra o governos anteriores brasileiros, de posição política contrária. Júlio Pereira Lima afirma que recebeu apoio de outros médicos, inclusive do próprio Reino Unido, e que textos como o da revista passam uma impressão sobre o Brasil. “A Europa inteira tem uma impressão que o Brasil nunca fechou nada. Que o Bolsonaro é louco, que deixou tudo aberto, o que não é verdade. Mas a ideia passada é essa”, afirma. Atualmente, o Brasil tem cerca de 611 pessoas mortas pela Covid-19 a cada milhão de habitantes. O número é menor que o do Reino Unido, com 615 óbitos por milhão. Em números absolutos, no entanto, o Brasil é o terceiro mais afetado — atrás de Estados Unidos e Índia — e o segundo em maior número de mortes, depois dos Estados Unidos. Em resumo, o ponto de vista dos médicos é que quando se vê uma revista ainda respeitada colocando convicções políticas acima da ciência, isso é motivo de preocupação.
*Com informações da repórter Beatriz Manfredini