Quadrilha enviou 6,6 toneladas de cocaína para o exterior, escondida em contêineres transportados em navios que partiam do porto do Rio; entre os condenados está um ex-jogador do Vasco da Gama.
A Justiça Federal no Rio condenou por tráfico internacional de drogas e organização criminosa os donos dos 280 quilos de cocaína que, segundo a Polícia Federal, foram desviados por três agentes e um delegado da Polícia Civil do Rio.
Os policiais civis foram alvos da Operação Dèjá Vu, da Polícia Federal, na última sexta-feira (20). Eles foram afastados das funções na Polícia Civil, e tiveram que passar a usar tornozeleira eletrônica.
Parte dos integrantes da quadrilha de traficantes internacionais foi presa em fevereiro de 2022, na Operação Turfe, da PF.
A operação foi batizada de “Turfe” em alusão ao homem apontado como o chefe do grupo criminoso, Cristiano Mendes de Córdova Nascimento. Ele era dono de dezenas de cavalos de corrida, alguns premiados, e segundo a PF usava o turfe para lavar o dinheiro sujo do tráfico.
No total, nove pessoas ligadas à quadrilha foram condenadas pela Justiça Federal.
Cristiano Córdova ficou com a maior pena: 26 anos e três meses. Segundo a PF, ele era o responsável por receber os pedidos de compradores sediados no exterior, organizar o fornecimento da cocaína com intermediários estabelecidos no Paraguai e aviar os preparativos para a remessa da droga a partir do porto do Rio de Janeiro.
Outro preso na Turfe e que foi condenado agora é Alexsandro Marques de Oliveira. Campeão carioca pelo Vasco em 2003, o ex-jogador pegou 10 anos de prisão. Os investigadores dizem que a função dele na quadrilha era alugar os galpões onde a cocaína era colocada dentro dos contêineres, antes de irem para o porto.
“Seus membros e colaboradores eventuais atuaram em toda a cadeia mercantil relacionada ao entorpecente: negociação da droga com compradores estrangeiros que a distribuiriam na Europa, aquisição da droga com fornecedores na Bolívia e na Colômbia, expedição da droga para o Paraguai, importação da droga no Brasil, transporte da droga para cidades portuárias brasileiras, armazenamento da droga para aguardar o embarque, corrupção de agentes portuários para permitir a entrada da droga nos terminais e a violação dos contêineres nos quais ela seria introduzida clandestinamente e, por fim, logística de carregamento da droga nos contêineres destinados à exportação”, escreveu o juiz Tiago Macaciel, da 5ª Vara Federal Criminal do Rio, na sentença publicada no último dia 11.
De acordo com as investigações da PF e do Gaeco do MPF, a quadrilha enviou 6,68 toneladas de cocaína para a Europa e África em 14 operações distintas, entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2022. A droga era escondida em contêineres, transportados em navios que partiam do porto do Rio.
Outras duas tentativas de remessa da droga não tiveram sucesso porque a droga foi apreendida – entre elas, a realizada pelos três agentes e pelo delegado da Polícia Civil, em dezembro de 2020.
Um dos membros da quadrilha, Leonardo Serro dos Santos, não se controlou e enviou uma mensagem para outro integrante do bando ao ser informado que policiais civis da 25ª DP (Engenho Novo) . A carga apreendida, diz a PF, era de meia tonelada da droga.
“Roubaram 280. Bando de ladrão fdp. Mas eles não sabem com quem estão brincando. Já estão vindo advs (advogados) para o RJ”, escreveu Leonardo, condenado a 18 anos de prisão.
A sentença também diz que os 280 quilos da cocaína foi desviada.
“Apesar de o termo que instrui o auto de prisão em flagrante informar que foram apreendidos tão-somente 216 kg de cocaína, as tratativas para o transporte da cocaína e as conversas (…) comprovam que a massa total da carga apreendida correspondia a meia tonelada e que, portanto, o restante da cocaína fora subtraída ilicitamente em algum momento entre a abordagem policial e lavratura do auto de prisão em flagrante”, escreveu o juiz federal.
O que dizem os citados
Em nota, a defesa de Cristiano Córdova disse que a investigação se baseou em provas ilícitas e que pediu a anulação da condenação.
Também por nota, a defesa de Alexsandro Marques de Oliveira destacou que o ex-jogador tem um vida pública e um passado sem manchas. E que recorreu da sentença por considerá-la injusta.
A defesa de Leonardo Serro dos Santos declarou que ele é inocente e que, no processo, ficou provada a nulidade da investigação. Disse ainda que, por isso, vai recorrer da condenação.