Internado na Santa Casa, Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, falou nesta quinta-feira (17) com delegado responsável pelo caso. Um dos tiros atingiu a gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, que morreu enquanto atravessava via.
Internado na Santa Casa de Ribeirão Preto (SP), Gustavo Alexandre Scandiuzzi Filho, de 26 anos, prestou depoimento à polícia nesta quinta-feira (17) e afirmou que uma briga de trânsito teria motivado o policial militar Maicon de Oliveira Santos, de 35 anos, a atirar em plena Avenida Independência na madrugada de segunda-feira (14).
Um dos tiros atingiu a perna de Gustavo, que passou por cirurgia na quarta-feira (16). Outro matou a gerente de loja Julia Ferraz, de 27 anos, que havia acabado de deixar um bar e atravessava o canteiro central da via, uma das mais importantes da cidade, repleta de restaurantes, bares e estabelecimentos comerciais.
O caso aconteceu por volta das 3h de segunda-feira. Santos foi preso em flagrante, mas acabou obtendo a liberdade provisória da Justiça na terça-feira (15), após passar por audiência de custódia. A suspeita é de que ele tenha atirado, pelo menos, dez vezes.
À polícia, o PM, que estava de moto, alegou que agiu em legítima defesa e chegou a dizer que foi vítima de uma tentativa de assalto, por parte de Gustavo e de Arthur de Lucca dos Santos Freitas Lopes, de 18 anos, que estavam em outra moto. Os jovens negam a versão do policial.
O promotor Marcus Túlio Nicolino, que acompanha o caso e também esteve na Santa Casa com a polícia, disse que Gustavo informou que o motivo da briga foi porque ele ultrapassou um sinal vermelho na Avenida Itatiaia e Santos teria se irritado.
“A vítima que está internada foi ouvida hoje [quinta-feira] e confirmou que realmente não houve uma tentativa de assalto e que, ao que parece, houve uma discussão por uma questão de trânsito. A vítima confessa que teria ultrapassado o sinal vermelho, o policial teria se irritado com isso e, então, começado uma pequena discussão”.
Ainda segundo Nicolino, Gustavo disse que a discussão seguiu até a Avenida Independência, quando as duas motos acabaram emparelhando.
“Em determinado momento, as motos ficaram emparelhadas, a vítima que conduzia a motocicleta confessa que teria dirigido alguns palavrões contra o policial, o policial, então, nervoso, teria sacado sua arma e passado a disparar na direção dos ocupantes da moto, acabando por atingir a Julia, que estava no canteiro central da avenida”.
O promotor afirmou que o inquérito está pendente de um laudo do Instituto de Criminalística e deve ser submetido, em breve, ao Ministério Público.
A partir daí, o MP deve oferecer denúncia a Santos e ele pode responder por homicídio qualificado e também por duas tentativas de homicídio qualificado.
Busca por imagens de câmera anteriores
Buscas por imagens de câmeras de segurança do cruzamento das avenidas Itatiaia e Independência ainda podem comprovar a versão de Gustavo sobre a discussão, diz Nicolino.
“É interessante que essas imagens anteriores podem vir para o inquérito, porque vão mostrar se os motociclistas, que até agora são vítimas, realmente estão falando a verdade. Pelo que as imagens [disponíveis até o momento] mostram e os depoimentos revelam, não está evidenciada uma tentativa de assalto. E mesmo não estando evidenciada uma tentativa de assalto, houve um excesso, um despreparo, uma possibilidade de atingir outras pessoas, como foi o caso da Julia”.
Família de jovem morta pede justiça
Marido de Julia, o motorista de aplicativo Yuri Felipe Silvério afirma que as filhas do casal, de 7 e 6 anos, estão abaladas e a família pede por justiça.
A liberdade concedida ao PM revoltou Silvério, que afirma que vai cobrar por uma punição severa.
“Ele deixou duas filhas sem mãe, ele fez uma covardia, uma brutalidade, destruiu uma família. Se ele errou, tem que arcar com o erro. Ele disparou mais de oito vezes, tem que ser punido. Eu vou querer justiça, vou atrás, porque quero ele preso. Ele vai ter que pagar, não vai voltar a vida dela, mas ele vai ter que pagar”.
O caso
A morte de Julia ocorreu por volta das 3h de segunda-feira, quando ela havia acabado de deixar uma casa noturna localizada na Avenida Independência.
A vítima estava com uma outra pessoa e caminhava pelo canteiro central da via quando foi atingida. A EPTV teve acesso a câmeras de segurança de estabelecimentos próximos ao local.
Nas imagens, é possível ver que, momentos antes de Julia ser baleada, Santos parece discutir com Gustavo e Arthur, que estavam em outra moto.
Em determinando momento, todos param e o PM saca uma arma e atira em direção à dupla, que foge.
Pelas imagens, é possível ver que, em meio a esses disparos, Julia, que estava metros adiante da origem dos disparos, cai no meio da avenida ao ser baleada.
Além da morte da jovem, o PM deve responder por duas tentativas de homicídio por conta dos tiros disparados em direção a Gustavo e Arthur.
Segundo a Polícia Civil, dez cápsulas deflagradas foram encontradas no local do crime e apreendidas. A arma do policial foi recolhida.
Para a delegada Vanessa Matos da Costa, responsável pelas investigações, houve excesso na conduta do policial militar responsável pelo tiro.