Jovem de 18 anos contou que ela e amiga foram levadas por quatro policiais para um local deserto, sob suspeita de estarem com drogas. Laudo do IML confirmou que jovem foi estuprada.
A jovem de 18 anos que denuncia um policial militar de estupro em Saquarema, na Região dos Lagos, disse que foi ameaçada durante o crime. Segundo ela, o suspeito disse:
“Eu vou te co***, você vai ficar quietinha, senão eu vou te matar e sua amiga vai ser presa.”
O RJ1 teve acesso aos depoimento de três policiais militares envolvidos no caso. O crime teria acontecido no dia 26 de abril.
Foi no Batalhão Prisional da Polícia Militar que os quatro PMs passaram a noite. Eles foram presos numa operação da Corregedoria da PM sob a acusação de estupro.
Gerson Jucá Rolim de Paula foi identificado pela vítima como o autor do crime.
Alexsander Moreira Simas, Sainclair Marinho Antunes Corecha e Diogo Viana Lourenço também foram presos. Segundo a Corregdoria da PM, porque não fizeram nada para evitar o abuso.
A vítima contou que foi abordada junto com a amiga em um bar, que as duas foram colocadas na viatura pelos cabos Gerson de Paula e Alexsander Moreira Simas, que foram levadas primeiro para o departamento de policiamento ostensiva da PM, em Saquarema e, na sequência, para um local deserto, quando foram acompanhados por um segundo veículo com os outros dois policiais militares.
A vítima disse que foi algemada, xingada, e agredida no rosto pelo cabo Gerson de Paula, que ele ameaçou matá-la com um canivete e disse que a amiga seria presa se ela não ficasse calada.
Segundo a vítima, a violência sexual durou cerca de vinte minutos e que quando outro policial se aproximou deles, teria dito ao suspeito: “você não perde essa mania.”
Ainda segundo o depoimento, o cabo de Paula teria consumido cocaína na viatura antes de estuprá-la.
Depois do abuso, as duas mulheres foram deixadas no local onde teriam sido abordadas pelos policiais. Em nenhum momento elas foram para a delegacia.
O laudo do IML confirmou que a vítima foi estuprada. O documento aponta escoriações na vagina e manchas roxas no braço.
O laudo diz ainda que foi colhida amostra de DNA da vítima e do sêmen encontrado nela.
A Corregedoria da PM usou dados do GPS das viaturas e imagens de câmeras de segurança da cidade para identificar os PMs.
Assim que foram presos, os policiais foram levados para prestar depoimento, mas o cabo de Paula, acusado pela vítima de cometer o estupro, preferiu ficar em silêncio.
Além dos quatro presos, a Corregedoria da PM também investiga a conduta do comandante da companhia da PM em Saquarema.
A Corregedoria quer saber se ele estava com os policiais no momento do estupro ou se ficou sabendo da conduta dos militares e não se pronunciou. O tenente Thiago dos Anjos foi afastado das ruas até o fim das investigações.
Depoimentos
O RJ1 teve acesso ao depoimento de três policiais.
Alexsander Moreira Simas confirmou abordagem e disse que as mulheres foram levadas ao terreno baldio para indicar aos policiais onde haveria droga escondida. Ele disse que o cabo de Paula ficou na viatura e conversou com a vítima em vários momentos e que quando ela pediu para urinar demorou a voltar.
Ele disse que, em certo momento, sentiu falta do cabo de Paula, viu que ele não estava na viatura, mas não fez nada. E voltou para onde estavam os outros militares.
Simas disse que não observou nenhuma conduta suspeita do cabo de Paula. Quando perguntado por que não levou as mulheres para a delegacia, o policial disse que elas não tinham material ou nada que pudesse as incriminar.
Diogo Viana Lourenço disse que não viu se o cabo de Paula ficou sozinho com uma das mulheres porque estava fazendo a verificação do terreno em busca de drogas.
O cabo Sanclair disse à Corregedoria que foi chamado para dar apoio à abordagem policial, que estava sem a câmera no uniforme porque tinha levado o equipamento para trocar porque estava descarrregado.
Ele também disse que não viu se uma das mulheres ficou sozinha com o cabo de Paula e que as mulheres foram levadas na viatura dele de volta ao bar e no caminho não comentaram sobre o abuso.
O policial disse que não houve apreensão de drogas com as mulheres.
A Quarta Delegacia da Polícia Judiciária Militar deve concluir o inquérito ainda nesta terça-feira (2) e encaminhar ao Ministério Público. Se forem condenados, os policiais podem ser expulsos da PM.
Até esta segunda-feira (1), os militares suspeitos de estupro eram reconhecidos pelos serviços prestados na Região dos Lagos e já foram homenageados pela Câmara de Vereadores de Saquarema.
No dia 4 de abril, Diogo Viana Lourenço e Sanclair Marinho Antunes receberam a medalha de bravura Cleyson da Costa Almeida — homenagem por quem merece destaque pelo comportamento exemplar.
Depois da prisão dos policiais, a vítima que chegou a ter medo de denunciar, se disse aliviada.
“Me sinto aliviada, né, porque tô traumatizada. Não posso ver uma viatura na rua, não posso ver um carro estranho na rua, que já começo, né, a ficar traumatizada com essas coisas. Mas que bom que a justiça foi feita, que principalmente o que estuprou foi preso.”
O que dizem os citados
A defesa do policial Sainclair Marinho Antunes Corecha disse que ele estava em outra viatura, não viu se o colega cometeu o estupro e não está envolvido no caso.
A defesa de Alexsander Moreira Simas disse que ele foi inocentado pela própria vítima e está à disposição da Justiça.
A defesa de Diogo Viana Lourenço disse que a prisão é “prematura e desnecessária” e que tem certeza que conseguirá comprovar a sua inocência.
O RJ1 não conseguiu contato com a defesa de Gerson Jucá Rolim de Paula.
A produção entrou em contato com o tentente Thiago dos Anjos, mas ele não quis falar com a reportagem.
O RJ1 também questionou a Câmara de Vereadores de Saquarem sobre as condecorações de dois PMs envolvidos no caso, mas, até o momento, não houve resposta.