Justiça da Suíça julgou e condenou Cuca e outros três atletas, em 1989.
Após duas partidas, o técnico Cuca pediu demissão e deixou o Corinthians na noite desta quarta-feira (26). A saída tem como pano de fundo a pressão da torcida e envolve uma investigação e condenação por violência sexual na década de 1980, na Suíça.
A investigação é de conhecimento público hás anos, mas ganhou repercussão recente na esteira de casos como a investigação do jogador Daniel Alves, acusado de ter estuprado uma jovem no banheiro de uma boate na Espanha no fim de 2022, e a condenação, em última instância, do jogador Robinho por violência sexual na Itália.
Ao se apresentar no Corinthians, no dia 21 de abril, Cuca falou sobre o caso e disse ser inocente. “Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada”, disse ele.
Entenda o caso:
O que Cuca fazia na Suíça?
Em 1987, Cuca, então jogador do Grêmio, viajou à Suíça como parte uma excursão do time pela Europa, segundo o ge. Hoje, o ex-jogador tem 59 anos.
Foi no país que ele e outros três atletas foram detidos sob alegação de terem se relacionado sexualmente com uma garota de 13 anos. Eles ficaram detidos em Berna por quase um mês e retornaram ao Brasil após serem soltos.
Qual foi a condenação?
A Justiça da Suíça julgou o caso, e Cuca e outros dois atletas foram condenados em 1989 a 15 meses de prisão por atentado ao pudor com uso de violência. O terceiro jogador foi absolvido da acusação de atentado ao pudor, mas condenado por estar envolvido no ato de violência. Nenhum deles cumpriu a pena, que prescreveu em 2004.
Luiz Carlos Martins, então vice jurídico do Grêmio, disse que um dos quatro jogadores teve relação consentida com a jovem, o que foi considerado estupro presumido pela legislação suíça devido à idade da menina. As declarações foram dadas em janeiro de 2021 ao “Esporte Espetacular”.
No Brasil, a legislação envolvendo menores de 14 anos é parecida. Independentemente de haver relação sexual, a prática de ato libidinoso com menor de 14 anos configura estupro de vulnerável, de acordo com a lei brasileira. Também não há possibilidade de consentimento com menor de 14 anos, segundo a legislação.
O que Cuca disse sobre o caso?
Ao se apresentar no Corinthians, Cuca falou sobre o caso a jornalistas.
“Nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina ao quarto, o quarto era o que eu estava junto com outros jogadores. Era um quarto duplo. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada”, disse ele.
“As pessoas falam que houve um estupro, houve acho que um ato sexual a vulnerável. Essa foi a pena dada. A gente vê e ouve um monte de coisas que são inverdades, chegam a ofender”, complementou.
Na mesma entrevista, Cuca também afirmou que não soube do julgamento e que não foi apontado pela vítima. “O nosso erro, o meu erro foi não ter me defendido. Primeiro, eu não tinha dinheiro para me defender. Segundo, eu nem soube que tinha sido julgado. Nós ficamos lá para averiguação.”
Gesticulando, Cuca deu a entender que a garota disse que ele não era culpado. “Por três vezes, a moça esteve lá na frente. Não é que ‘não te reconheceu’, é que eu não estava. E ela, a vítima, não sou eu, é ela, a vítima, a moça. ‘O rapaz não tá, o rapaz não tá, o rapaz não tá’.”
“Se a vítima disse que eu não estava e eu juro por Nossa Senhora, que eu amo, que eu não estava, como é que eu posso ser condenado pela internet?”, questionou ele.
Há alguma declaração de defesa da vítima?
Segundo o UOL, o advogado suíço que representou a garota e sua família no processo negou a versão de Cuca e disse: “A declaração de Alexi Stival (Cuca) é falsa. A garota o reconheceu como um dos estupradores. Ele foi condenado por relações sexuais com uma menor”
Pedido de demissão
A passagem do treinador pelo Corinthians, a primeira no clube, durou menos de uma semana. Cuca foi anunciado na última quinta-feira (19) e estreou no domingo, contra o Goiás.
Em breve pronunciamento dado na última quarta-feira, após vitória contra o Remo, na Copa do Brasil, Cuca disse que não estava se demitindo por vontade própria. “Eu saio neste momento, não é pelo o que eu queria. Se espera uma vida inteira para estar aqui. É um pedido da minha família”.
Daniel Alves e Robinho
Daniel Alves está preso em Barcelona, na Espanha, enquanto a acusação de estupro no banheiro de uma boate é investigada. Ele deu diferentes versões sobre o ocorrido. Após afirmar que não conhecia a jovem que faz a acusação, ele disse que a relação foi consentida.
Já Robinho foi condenado pela Justiça italiana, em última instância, pelo crime de violência sexual em Milão, em 2013. Um amigo do jogador também foi condenado no mesmo processo.
Robinho está no Brasil e chegou a ser anunciado pelo Santos em outubro de 2020. Poucos dias após o anúncio, entretanto, também sob pressão, jogador e clube romperam o contrato.
Robinho e o amigo receberam a pena de nove anos de prisão e 60 mil euros, aproximadamente R$ 370 mil. Segundo reportagem do Jornal Nacional, os advogados da vítima disseram que o jogador aceitou pagar a indenização de 60 mil euros. Já pena de nove anos de reclusão para Robinho e o amigo pode ser cumprida no Brasil, mas depende de um longo processo jurídico e diplomático.