O sargento Arleu Junior Jacobsen e os soldados Raul Veras Pedroso e Cleber de Lima respondem na Justiça Militar pelos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Na Justiça comum, eles respondem por homicídio triplamente qualificado.
A Justiça Militar marcou para o dia 20 de julho o julgamento dos três PMs que são réus no caso Gabriel Marques Cavalheiro, jovem de 18 anos morto em São Gabriel, depois de uma abordagem policial, em agosto do ano passado. O interrogatório dos policiais será realizado no dia anterior.
Nesta quinta-feira (13), em Santa Maria, foi encerrada a etapa de audiências. As testemunhas ouvidas são civis, militares e pessoas que foram citadas em depoimento. Outras audiências do processo já foram realizadas em fevereiro. Os réus acompanharam os depoimentos.
Três policiais militares, o sargento Arleu Junior Jacobsen e os soldados Raul Veras Pedroso e Cleber de Lima, respondem na Justiça Militar pelos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Na Justiça comum, eles respondem por homicídio triplamente qualificado. Eles negam envolvimento no crime. Os réus permanecem detidos no Presídio Militar de Porto Alegre.
A advogada constituída pela família de Gabriel, Rejane Igisk Lopes, afirmou ao g1 que “este é o curso ordinário e esperado do processo”.
Relembre o caso
Gabriel Marques Cavalheiro desapareceu no dia 12 de agosto de 2022 em São Gabriel. Ele estava na cidade hospedado na casa de um tio, para prestar serviço militar. O desaparecimento ocorreu depois de uma abordagem policial na Avenida Sete de Setembro. Uma vizinha da casa em que ele estava hospedado chamou a polícia porque, segundo ela, o jovem estaria forçando o portão que dá para o pátio em frente ao imóvel.
Os policiais teriam agredido Gabriel, que foi imobilizado e levado para dentro de uma viatura militar. Testemunhas disseram que ele foi atingido por “pelo menos dois ou três golpes de cassetete”. Essa foi a última vez que Gabriel teria sido visto com vida.
No dia seguinte, 13 de agosto, as buscas pelo jovem começaram. A Brigada Militar (BM) negou, inicialmente, que tivesse levado Gabriel de viatura até algum lugar. Depois, a corporação corrigiu a informação e disse que os policiais levaram o jovem para uma região no interior do município conhecida como Lava Pés, distante cerca de 6 km de onde houve a abordagem. O sistema de GPS do veículo indicava que foi feito o trajeto até o local.
O corpo foi localizado no dia 19 de agosto, submerso em um açude na localidade. No mesmo dia os três policiais foram presos preventivamente. A Justiça Militar entendeu que os agentes promoveram “abandono de pessoa que está sob seu cuidado, guarda ou vigilância e falsidade ideológica” e alteração de documento público.
Os três policiais prestaram depoimentos em três ocasiões, sendo duas vezes para a BM e uma para a Polícia Civil. Em todas, eles negaram envolvimento no assassinato de Gabriel.
Investigação
Um laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) constatou que a causa da morte de Gabriel foi “hemorragia interna”. O documento divulgado em 29 de agosto apontou que o jovem apresentava “sinais de ação por instrumento contundente”. No entanto, o sangue encontrado na viatura policial não era do rapaz.
No mesmo dia, os policiais foram indiciados no inquérito militar por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Em 1º de setembro, a Polícia Civil indiciou os suspeitos por homicídio doloso triplamente qualificado.
Já no dia 5 de setembro, o Ministério Público denunciou os policiais por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. A investigação considerou que os acusados agiram por meio cruel, motivo fútil e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.
A Justiça aceitou a denúncia, e os policiais viraram réus no dia 6 de setembro.