Duas das maiores facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho, entraram com tudo no mundo digital e estão roubando o que podem de brasileiros. Com a vida financeira da população concentrada nos celulares, esses aparelhos se transformaram nos principais alvos de bandidos, diz Rafael Cordeiro, diretor de Vendas da Tempest, uma das maiores empresas de cybersegurança do mundo, com base em relatos da polícia Em muitos casos, as vítimas são sequestradas para que todas as informações bancárias sejam repassadas. De posse dos dados, os criminosos abrem contas especialmente em bancos virtuais em nome dos raptados, que são transformados em laranjas deles próprios.
“Hoje, tudo está nos celulares: documentos, dados bancários, informações de cartões de crédito”, afirma Cordeiro. “Por isso, os roubos de aparelhos estão batendo recordes, sobretudo nas grandes cidades”, acrescenta. O executivo lembra que, diante dos altos volumes de recursos roubados, o PCC e o Comando Vermelho estão arregimentando um grupo cada vez maior de criminosos. “Eles atuam em todas as frentes. Não só roubando celulares, mas enviando mensagens maliciosas, os phishing. E muita gente cai como peixe na rede”, detalha. Os golpes se estendem às empresas, que estão tendo os dados sequestrados, muitas vezes, por falhas nos sistemas de segurança.
O diretor da Tempest ressalta que, por temerem o roubo de dados, muitas pessoas estão optando por ter dois celulares. Um, com as informações financeiras, fica em casa. O outro, com dados básicos, vai para as ruas. Se furtado, não causa tantos transtornos. Ele acrescenta, ainda, que, muita gente não se preocupa em usar mecanismos de proteção nos celulares, o que torna as pessoas mais vulneráveis às ações dos bandidos. “De posse de informações confidenciais, os criminosos conseguem descobrir o padrão de consumo das vítimas, que ficam mais expostas à violência”, complementa. Portanto, diz ele, todo cuidado é pouco.
Dados mais recentes de crimes cibernéticos mostram que o Brasil aparece no ranking dos cinco países com mais fraudes digitais. O levantamento está Fraud & Abuse Report, da Arkose Labs, empresa norte-americana especializada em segurança da informação. A lista inclui Estados Unidos, Rússia, Indonésia, Filipinas e Reino Unido. No Brasil, 89% dos crimes são no mundo virtual e 11%, ações manuais. Em 2017, o país registrava uma tentativa de fraude a cada 16 segundos, conforme relatório do Serasa Experian. Já entre 2019 e 2020, houve um aumento recorde de 308,2% no volume de phishing — como especialistas chamam o crime de enganar as pessoas para que compartilhem informações confidenciais como senhas e número de cartões de crédito —, de acordo com dados da Axur.