A “debandada” do Secretário Especial de Desestatização, Salim Mattar, é a demonstração prática de que não basta apenas ter boas intenções, quando o que está na mesa de negociação são as privatizações.
Salim foi e é um dos maiores entusiastas da agenda liberal dentro do governo. Esse título ninguém poderá tirar dele.
Ele é também uma daquelas personalidades que estavam no governo por convicção, por uma missão. Financeiramente ganha mais estando fora dele.
A saída dele não pode ser vista como algo positivo.
Mesmo que alguns lembrem que ele tinha pouco jogo de cintura no diálogo político, não foi isso que travou a agenda de privatização.
O fato é que ao ingressar no dia a dia da máquina pública, o empresário também se deparou com o cipoal de interesses contrários, que se valem da velha burocracia, para travar qualquer avanço de temas relacionados à venda de empresa públicas.
Como ele bem ressaltou em artigo publicado após a sua saída, “são quinze agentes envolvidos, do presidente ao ministro setorial, do TCU ao BNDES”.
O sinal de que a agenda de privatização vem patinando pode ser percebido ao longo desses pouco mais um ano e meio de governo.
Apenas para lembrar.
1) No início do segundo semestre de 2019, tentou-se criar um ambiente após a votação da Previdência, sem êxito.
2) Em agosto do mesmo ano, falou-se na privatização de nove empresas (Telebras, Correios, Codesp, Dataprev, Serpro, Emgea, Ceitec, Ceagesp). Nenhum cronograma ou detalhe foi apresentado na ocasião.
3) No final do ano de 2019, o governo apontava para uma arrecadação de r$ 150 bi, em 2020, com as privatizações.
4) No mês passado, nova coletiva imprensa. Desta vez já constavam no pacote a privatização de 12 empresas, para 2021. De novo, nenhum cronograma ou detalhe foi apresentado.
A pergunta que fica é: a saída Salim pode abrir caminho para as privatizações?
Do que depender do Congresso, como é o caso da Eletrobras, as chances são pequenas.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já sinalizou que neste ano (enquanto ele estiver no comando da Casa) essa pauta não anda. De outro lado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também não dá sinais de que irá contribuir para esse debate.
Como pano de fundo desta paralisia no Congresso está a eleição pela sucessão das duas Casas e as eleições municipais.
Tem que ser somado a esse contexto o fato de que nos próximos meses a agenda no Congresso deve se concentrar nas questões que envolvem reforma tributária, teto de gastos, extensão de benefícios, Renda Brasil e Orçamento de 2021.
No que não depender do Congresso, ou seja, no que depender apenas da administração pública, a pergunta que fica é: por que até agora não houve nenhum tipo de avanço?
A saída de Salim pode ser uma boa resposta para isso.
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