SÃO PAULO – O desembarque do empresário Salim Mattar da Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia explicitou um quadro de dificuldades enfrentado pelo governo federal na implementação de uma agenda robusta de privatizações.
Este foi um dos assuntos do podcast Frequência Política. programa é uma parceria entre o InfoMoney e a XP Investimentos. Ouça a íntegra pelo player acima.
A notícia ocorre pouco mais de um mês após o próprio secretário sinalizar um plano de privatização ou concessão de 12 estatais para 2021. No projeto, convergente com o cronograma do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), havia empresas de peso, como Correios, Dataprev, Eletrobras e Telebras.
Mas sempre houve muito ceticismo por parte dos agentes do mercado financeiro sobre as condições de tirar os planos do papel. “A questão política travou basicamente esse processo de privatização, especificamente a questão da Eletrobras, que tem que passar pelo Congresso, e não tivemos um entendimento dentro das duas casas para avançar isso”, observa Erich Decat, analista político da XP Investimentos.
Na avaliação do analista, Salim Mattar construiu uma estratégia inteligente para conduzir a secretaria responsável pela pauta das desestatizações, mas não foi capaz de superar os inúmeros obstáculos que envolvem a agenda, considerada um tabu por parte do mundo político.
“Ele criou uma imagem de supersecretaria, mas no dia a dia de Brasília percebeu que essa supersecretaria, que convocava a imprensa e movimentava o mercado, que tinha reuniões com investidores e cenários bastante otimistas, era uma pecinha dentro de uma engrenagem. Ele começou a perceber que só essa pecinha não ia fazer com que as privatizações começassem a avançar”, pontua.
O empresário será substituído por Diogo Mac Cord, engenheiro mecânico e especialista em infraestrutura, que atuava como secretário de Desenvolvimento da Infraestrutura do Ministério da Economia.
No mercado, a saída de Salim Mattar, da forma como ocorreu – com o ministro Paulo Guedes (Economia) reconhecendo dificuldades na agenda de privatizações e fazendo cobranças públicas e o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mencionando o assunto em pronunciamento no dia seguinte –, gerou uma expectativa de que a pauta possa encontrar mais espaço para avançar.
Mas Decat acredita que os obstáculos persistem. Para ele, o sucessor de Mattar também deverá esbarrar em um “cipoal de interesses” em Brasília. “Salim era um dos principais idealizadores dessa agenda de privatizações. Para o bem e para o mal, ele estava de peito aberto, queria que esse tema avançasse e não conseguiu por uma questão política”, diz.
“Como o próprio Salim colocou em uma carta de despedida, estamos falando de questões que envolvem da secretaria de privatização à presidência da república, do TCU ao Supremo. No meio do caminho também tem o Congresso. Privatização ainda está muito difícil de avançar, também tendo em vista a agenda macro, que deve tomar a agenda do Congresso nos próximos quatro meses”, complementa.
Além de esbarrar em interesses e tabus, as privatizações também tropeçam nos tempos da política e em acordos firmados – que podem obstruir debates até mesmo na agenda do ano que vem.
“Quando chegar em 2021, vamos ter que saber quem são os principais atores, se os presidentes das duas casas vão tocar essa agenda e se haverá espaço também na antessala de uma eleição presidencial para discutir um tema controverso como este”, conclui Decat.
O assunto foi abordado na edição desta semana do podcast Frequência Política. Você pode ouvir a íntegra pelo Spotify, Spreaker, iTunes, Google Podcasts e Castbox ou baixar o episódio clicando aqui.
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