O Ministério Público (MP) do Rio de Janeiro anunciou que abriu investigação contra o prefeito da capital fluminense, Marcelo Crivella (Republicanos), após reportagem da TV Globo revelar que ele mantém um esquema de cerceamento ao trabalho da imprensa pago com dinheiro público. Além da Promotoria, parlamentares de oposição já anunciaram que vão pedir a abertura de um processo de impeachment e de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar os fatos. A reportagem mostrou que a Prefeitura do Rio paga funcionários para fazer “plantões” nas portas de hospitais e impedir o trabalho de equipes de televisão. Quando os repórteres começam a gravar entrevistas com pessoas que reclamam das condições da saúde municipal, os “guardiões do Crivella“, como é denominado o grupo desses servidores no WhatsApp, interrompem as gravações.
A bancada do PSOL na Câmara Municipal vai apresentar na tarde desta terça-feira (1) um pedido de impeachment, conforme anunciou o vereador Tarcísio Motta. O partido vê crime de responsabilidade no ato do prefeito, que participava do grupo e dava incentivo aos servidores. Já Teresa Bergher, do Cidadania, vai pedir a abertura de uma CPI e a exoneração do servidor Marcos Paulo de Oliveira Luciano, espécie de operador dos “Guardiões”. Ele ganha mais de R$ 10 mil por mês dos cofres públicos para gerenciar o esquema de ataques à imprensa. “O prefeito, que vive alegando falta de dinheiro para gerir a cidade, que está abandonada, utiliza recursos públicos para pagar uma milícia de defensores de sua péssima gestão. Paga mais de R$ 3 mil para jagunços ameaçarem jornalistas e constrangerem pacientes que vão buscar atendimento nos hospitais do município”, diz a vereadora. “O funcionário que está por trás dessa milícia tem quer exonerado imediatamente, junto com todo o grupo. É caso de prisão de toda esta milícia. O prefeito deveria gastar este dinheiro com profissionais de Saúde. Uma vergonha. O Rio não merece isso.”
Os pedidos de medidas contra Crivella, que vai tentar a reeleição em novembro, não se limitam à Câmara Municipal. Deputado federal e ex-adversário do prefeito na eleição de 2016, quando ficou em terceiro lugar, Pedro Paulo (DEM-RJ) afirmou que vai entrar com ação popular para apuração dos gastos com os servidores, além de apresentar os indícios de irregularidades nos âmbitos administrativo e criminal ao MP. “O prefeito está usando dinheiro público, pagando salários e contratando militantes e cabos eleitorais para constranger os cidadãos e impedir o trabalho dos jornalistas. Além de ser uma atitude antidemocrática, é uma tentativa de escamotear a realidade. Um exemplo de truculência, em vez dar explicações e melhorar os serviços. Isso é gravíssimo”, aponta o parlamentar, que é um dos principais aliados do ex-prefeito Eduardo Paes, o líder nas pesquisas para a eleição deste ano. No MP, a investigação foi aberta pela Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos, com apoio do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça (Gaocrim).
*Com Estadão Conteúdo