Tiroteio terminou com quatro feridos e envolveu seis agentes de segurança – apenas um deles foi preso. Investigação policial foi encerrada sem pedido de vídeos.
Um tiroteio digno de cinema ou uma confusão com uma sucessão de episódios bizarros? Essa é uma das dúvidas de quem vê pela primeira vez as imagens do tumulto que aconteceu no Bar Beco, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, na noite de 30 de janeiro de 2022.
Veja mais abaixo quem participou da confusão.
Apesar de ter acontecido há 14 meses, o confronto envolvendo, no mínimo, seis agentes de segurança e várias pessoas armadas, não recebeu muita atenção dos agentes da Delegacia de Campo Grande (35ª DP). As investigações da Polícia Civil foram encerradas sem nem mesmo pedir os vídeos das câmeras de segurança do estabelecimento.
O RJ2 teve acesso ao processo que corre no Terceiro Tribunal do Juri e, pelo que consta nas mais de 800 páginas, praticamente não houve investigação dos agentes sobre o caso.
As imagens obtidas com exclusividade pela TV Globo na última terça-feira (26) mostram cenas inusitadas: um homem com duas pistolas, um atirador que não larga seu copo, um rapaz ferido na cabeça bebendo cerveja, um homem agachado para escapar dos tiros e preocupado em não perder seu balde de bebidas, além de outro homem sentado no bar, tranquilo e calmo, enquanto tudo ao redor está pegando fogo.
Cerveja na mão e tiro com a outra, homem com 2 pistolas, cadeirada impedida, ‘tranquilidade’ no caos: cenas do ‘faroeste’ em bar do Rio
O tiroteio deixou quatro pessoas feridas – sendo uma delas com a perna amputada. A confusão generalizada teve início no bar e terminou em um hospital, onde três PMs voltaram a entrar em conflito e um deles deu uma coronhada no colega de farda.
Na noite do tiroteio, os investigadores foram ao bar, fizeram uma perícia, ouviram algumas testemunhas e prenderam em flagrante o policial Felipe Cancellas, que atirou contra o bar. Contudo, o trabalho dos investigadores terminou e o caso foi enviado para a Justiça.
Quem já foi identificado no ‘faroeste’
Felipe Augusto Cancellas: O policial militar é acusado de ter atirado do carro várias vezes contra o bar. Ele já responde a um processo no 3ª Tribunal do Júri por quatro tentativas de homicídio e uma lesão corporal, e está preso desde o dia do crime.
Nas imagens obtidas pela TV Globo, Canellas é o primeiro a sacar uma arma durante a confusão, ainda dentro do bar de Campo Grande. Contudo, ele não efetua nenhum disparo no interior do estabelecimento.
Canellas é amigo de Ricardo Cardoso, o homem de camisa marrom que dá início a confusão no interior do bar.
A namorada de Felipe Cancellas, Paula Nascimento de Souza, também foi baleada no tiroteio. Após o confronto no bar, os dois foram até o Hospital Municipal Rocha Faria, também em Campo Grande, para tratar os ferimentos no pé de Paula.
Foi no local que Cancellas se envolveu em mais uma confusão naquela noite. Ele se desentendeu com o policial Cleber Maciel Costa Pinheiro. Felipe deu uma coronhada em Maciel.
Carlos Eduardo Serra da Silva: O policial penal é identificado no processo na Justiça como vítima de tentativa de homicídio. Nos vídeos no bar, ele aparece de boné e efetua disparos durante o confronto.
Renan Passos Crespo: Gravado com uma arma prateada na mão e vestindo uma camiseta preta, o policial militar também está envolvido no confronto.
Oito meses depois do tiroteio, ele foi acusado pela Delegacia Antissequestro de participar do sequestro de um empresário em 2020.
Cleber Maciel Costa Pinheiro: O sargento da Polícia Militar estava no grupo que começou a confusão no bar. Ele também se envolveu em uma briga com Felipe Cancellas no Hospital Rocha Faria.
Cleber estava de folga, mas foi chamado ao hospital pelo amigo Nelson Carvalho da Silva Filho, que era plantonista na unidade de saúde naquele dia.
De acordo com o depoimento de Nelson, a chegada de Maciel no hospital provocou a revolta de Felipe Cancellas, que começou a acusar Maciel de ser amigo dos policiais que atiraram contra ele no bar em Campo Grande.
Cancellas puxou sua arma e apontou para o PM recém-chegado. Na sequência, Nelson se colocou na frente para tentar proteger Maciel do ataque de Felipe. Contudo, o soldado deu uma coronhada em Maciel, que naquele momento também era imobilizado por Felipe Castilho, amigo de Felipe Cancellas.
Ricardo Cardoso: Na época do tiroteio, Ricardo Cardoso trabalhava com vendas de piscina. Nas imagens dentro do bar, ele aparece de camisa marrom e é apontado pelas investigações como o primeiro a brigar no local.
Ricardo é amigo de Felipe Cancellas.
André Luiz da Silva Ferraz: Uma das vítimas do tiroteio, ele aparece no vídeo de camiseta amarela. André perdeu a perna esquerda após ser atingido.
O outro ferido é Fernando Carlos da Costa, também atingido na perna.
Rafael Rosa de Macedo é outro ferido. Ele aparece na cena da briga e estava com o sargento da Polícia Militar Kleber Maciel. Foi o grupo que estava com o PM que partiu para briga.
Paula Nascimento de Souza, mulher de Felipe Augusto Cancellas, também se feriu no confronto. Ela levou um tiro no pé e foi atendida no Hospital Rocha Faria.
Bruna Cruz Pereira é proprietária do Bar Beco, em Campo Grande.