No final de 2017, a professora de química Aline Costa Santana se mudou de Aracaju, no Sergipe, para Garanhuns, em Pernambuco. O motivo? Ficar mais perto de uma das escolas que ela dá aulas para o Ensino Médio em Brejão, cidade do interior do Estado. Porém, ela ainda está 153 quilômetros distante de São Sebastião, no Alagoas, o outro município em que ela também ministra aulas para outra escola estadual. Durante a pandemia da Covid-19, entretanto, a distância de sua casa para as duas escolas foi zerada em razão da suspensão das aulas. Aline, com ajuda de seus colegas professores, tenta minimizar os impactos da crise na educação dos seus mais de 600 alunos ministrando aulas por meio da internet.
O Estado do Alagoas adotou o Google Sala de Aula como plataforma para ensinar os estudantes — mas a tecnologia ainda não chegou na casa de todos. “Na turma da manhã, as atividades atingem uns 50% dos alunos. Os outros 50% não conseguimos atender por meio desse sistema. Alguns relatam falta de acessibilidade, de internet, mas, em outros casos, é desinteresse do estudante”, conta. Já em Pernambuco, a situação é ainda mais complicada. A professora explica que, em vez de adotar uma plataforma, o Estado deixou a critério dos educadores. “Dizem que, quando as coisas voltarem, vai ser com ensino híbrido. A escola não tem nem água para lavar a mão, essencial para manter a higiene contra o coronavírus. Não sei como vai ser.”
O desinteresse é uma constante na vida desses jovens. “Eles não têm motivação de estudar, mudar de vida, de ver solução de muitos problemas na educação. Existe uma cultura de ‘faça licenciatura’ ou um curso mais simples. Não se estimula a fazer medicina ou cursos mais concorridos. Eles podem até ter um sonho, mas são criados com a ideia de que não passarão no vestibular.” Aline lembra da ocasião em que um de seus alunos disse que queria prestar direito e perguntou a ela se conseguiria. “Eu respondi que vai depender muito dele. O impossível é uma questão de opinião. Se ele se esforçar, abrir mão de muita coisa e se dedicar exclusivamente ao sonho dele, vai conseguir. É questão de esforço e sacrifício. Achar que um milagre vai acontecer é muito pouco provável”, desabafa.
A alternativa que Aline encontrou foi gravar vídeo-aulas em vez de enviar material pronto — mas o processo é trabalhoso. Ela grava PowerPoint, a própria voz, converte para o formato mp4 e depois comprime o conteúdo. Do contrário, o vídeo não é enviado pelo WhatsApp — a ferramenta mais acessada em Brejão. “Eu sou a pessoa que trabalha todo dia, mesmo à distância. Gravo aula para turmas de 1º, 2º e 3º ano, coloco as atividades no formulário Google e eles gostam bastante. Em Alagoas, de uns 240 alunos eu recebi 159 atividades. É um número considerável, mas, se fizer muita exigência de cálculo, eles não mandam. Se for tarefa de marcar alternativa, aí eles mandam. Já em Pernambuco, fazendo da mesma forma, é mais devagar, e em todas as matérias”, lamenta.
Aline prevê que, infelizmente, os índices de evasão escolar devem aumentar no próximo ano, em consequência da crise causada pelo novo coronavírus. “E o meu sentimento em relação a isso é de tristeza. Faço o possível e o impossível. Eu vivo pensando em ciência, eu durmo pensando em ciência, eu acordo pensando em ciência. Luto de todas as formas. Quero provocar uma mudança de vida, porque a educação é sinônimo de transformar realidades. Só quem está em uma sala de aula sabe como é”, finaliza.