A pandemia também escancarou um problema antigo de quem mora em Heliópolis, maior comunidade da capital de São Paulo: o acesso precária à internet. Um levantamento do Observatório “De Olho na Quebrada”, publicado em julho, mostrou que as grandes empresas, como Vivo, Tim e Claro, não chegam à comunidade ou chegam de forma inadequada. Sem internet na pandemia não dá para assistir filmes, falar com os amigos por vídeo e, nem mesmo, pedir o auxílio emergencial do governo federal, o que leva dezenas de pessoas a se aglomerarem na frente de agências da Caixa Econômica Federal.
A falta de internet também prejudica crianças e adolescentes que dependem dela para estudar. A Daiane Alves, mãe do Guilherme, conta que ele não conseguiu fazer nenhuma aula remota desde que começou a quarentena por falta de acesso à internet. “A internet tem horas que é só caindo, devido a estar todo mundo em casa ela fica muito fraca. E as ulas não tem como assistir porque não passa na televisão e não consigo acesso pelo celular, no aplicativo. Só tenho acesso aos conteúdos que a professora manda pelo grupo do whatsapp”, afirma. Daiane até tenta ajudar o filho a entender a matéria, mas nem sempre consegue. “Têm lições que ele não consegue mais fazer porque eu não consigo ajudar e ele não entende porque são coisas mais avançadas da onde ele parou”, explica.
A Jovem Pan foi atrás de uma moradora de Heliópolis que, embora não seja profissional de saúde, está trabalhando para minimizar os efeitos da pandemia da Covid-19. A Solange da Cruz é líder comunitária e trabalha na Unas, entidade sem fins lucrativos que atua na comunidade há mais de 40 anos. Há três décadas ela decidiu se mudar para a comunidade para ajudar as crianças e os jovens mais carentes. Mesmo sendo do grupo de risco, Solange não deixou de ajudar a comunidade. “Eu não estou livre de não pegar, tomo os cuidados que tenho que tomar, mas eu vou morrer lutando”, afirma. Uma das iniciativas da Una durante o período foi a distribuição de cestas básicas para as famílias mais vulneráveis. Uma pesquisa feita pelo Observatório “De Olho na Quebrada” mostra que apenas 58% das famílias de Heliópolis estão fazendo três refeições diárias. De acordo com Solange, o maior desafio foi cadastrar essas pessoas.
“Não é só você dar cesta básica, mas saber qual a necessidade das pessoas e mapear isso. No começo a gente era meio biruta e fazia visitas, pensando nas pessoas não saírem de casa então íamos nas casas. Depois vimos que era humanamente impossível e mudamos. A gente já conseguiu orientar as pessoas e não tem mais fila”, explica. As cestas básicas foram essenciais para a moradora Joselita dos Santos. Ela soma os mais de 12,2 milhões de brasileiros que estão sem trabalho no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Eu só tenho a agradecer a Deus e a eles aqui. Eles me ajudam com cesta básica, com gás, com máscara, gel, bandeja de ovos”, comenta. Joselita trabalhou durante 10 anos para uma família como empregada doméstica, até ser dispensada em março. O marido dela e dois dos três filhos também não estão trabalhando. “Eu fico triste porque você quer comprar as coisas, mas você não tem dinheiro. Eu gosto de trabalhar, eu sou do norte e fui criada na roça trabalhando. Eu quero trabalhar. Todo dia eu peço a Deus para isso acabar e eu trabalhar”, conclui.
*Com informações da repórter Nicole Fusco