O livre tráfico de drogas e o número de usuários que moram nas ruas próximas a pontos simbólicos como a estação da Luz ou a Sala São Paulo continuam assustando quem vive por ali ou convive com uma cicatriza que não se fecha na imagem da cidade. Nos últimos dias, os confrontos entre dependentes e guardas civis voltaram a ficar em evidência na região da Cracolândia. Basta os agentes entrarem no chamado fluxo para a confusão começar. As operações por lá são diárias e a tensão só cresce. O que se nota nos relatos de quem mora na região é um aumento da violência por parte dos agentes. A situação crítica chamou mais atenção depois que candidatos à prefeitura da capital paulista filmaram operações que resultaram em confrontos na região. Na opinião da psicóloga e mestre em neurociência pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Clarice Sandi Madruga, a região não pode ser tratada como caso de polícia. “Se houvesse uma ação mais estratégica não haveria necessidade de grandes porque nunca haveria esse agravamento que a gente fica vendo e que os estudos mostraram também. Essa flutuação, chega dois mil usuários, daí acontece uma operação, os usuários pulverizam pela cidade, uma porção pequena [dos usuários de drogas] consegue reinserir, mas a grande maioria acaba voltando”, explica.
Madruga é uma das autoras do primeiro estudo a traçar o perfil dos frequentadores da região, feito pela Unidade de Pesquisas de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo. Ela explica que ações generalistas só prolongam a existência dos usuários na cracolândia. “Isso faz a gente refletir o quanto existe à vezes uma concepção errônea que toda população da Cracolândia sofreu vulnerabilidade social antes da dependência. Eles acabam no crack por já estarem à margem da sociedade. E isso não é verdade, a grande maioria esteve inserido e a gravidade da dependência levou eles para lá”, explica. Em nota, a prefeitura informou que realiza três operações de limpeza por dia nas Alamedas Cleveland, Dino Bueno e rua Helvétia, de onde são retiradas diariamente 14 toneladas de lixo. Ainda de acordo com a nota, a presença do poder público incomoda os usuários, que muitas vezes optam por entrar em confronto com a equipe de limpeza e os agentes da Guarda Civil municipal.
*Com informações do repórter Leonardo Martins