Nos últimos 100 anos, a humanidade só passou por dois eventos com a magnitude da Covid-19: a pandemia da gripe espanhola e a emergência da Aids, causada pelo vírus do HIV. É essa a avaliação do coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio. E, observando a situação atual, o Brasil ainda deve enfrentar o problema por mais um largo período de tempo. “A tendência desses números é abaixar um pouco em algumas regiões do país, como no Norte e no Nordeste. Mas, durante as próximas semanas e meses, iremos registrar muitos casos de Covid — em especial nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.”
Rivaldo, que acredita em uma vacina contra o novo coronavírus em breve, disse à Jovem Pan não ter a menor dúvida de que a imunização vai chegar ser uma grande contribuição para a humanidade. “Eu sou pesquisador e infectologista. Acredito piamente e sou otimista em relação à vacina. No entanto, nós não temos certeza nesse momento qual vai ser a capacidade dessa vacina em proteger os indivíduos. Se ela não for suficiente para impedir a contaminação em 100% de novas infecções, que pelo menos os infectados desenvolvam uma forma mais branca da doença”, explica.
Nesse momento ainda não se sabe se serão necessárias um ou duas doses ou se será preciso algum tipo de reforço ao longo dos anos. Venâncio alertou que o Brasil não tem capacidade para, em poucos dias, produzir o quantitativo de vacina necessário para imunizar toda a população brasileira. Ou seja, será preciso em um período de produção e aplicação que, paulatinamente, vai proteger o conjunto da sociedade.
Para ele, o alerta da Organização Mundial da Saúde sobre uma imunização que pode “nunca existir” é muito mais por precaução em relação aos novos casos do que por dúvidas da ciência. “Nós sabemos que a vacina não estará disponível em larga escala para milhões de pessoas ao mesmo tempo antes de janeiro ou fevereiro de 2021. Se esse alerta não for reforçado, de que as medidas preventivas individuais e coletivos devem ser tomadas de forma rigorosa, provavelmente vamos registrar uma explosão de infecções. A OMS quer dizer que a chegada de vacina pode não ser como o esperado de imediato.”