SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em entrevista ao Roda Viva (Cultura), na noite desta segunda (21), Ana Maria Braga, 71, fez revelações sobre a sua trajetória na TV e o assédio que sofreu de um diretor, lembrou da relação difícil com o seu pai, que não queria que ela estudasse, e falou também da volta das gravações do Mais Você para São Paulo.
Entre outros assuntos, a apresentadora disse ainda que não se imagina parando de trabalhar. “De jeito nenhum. Eu adoro o que faço. Então é um prazer tão grande, porque vou me furtar desse prazer que tenho?! A não ser que alguém chegue e diga: ‘Chega, não tem mais espaço para você, está gagá'”, afirmou, aos risos.
Sobre a situação de assédio, Ana Maria não citou nomes. Disse que aconteceu quando ela foi apresentar a um diretor uma proposta de uma atração para a TV brasileira. “Fiz um projeto lindo, fiquei 15 dias trabalhando no projeto, acreditando que pudesse sair do programa da tarde e ter um programa à noite. Ele tinha me dito ‘você pode ser a Hebe Camargo amanhã'”, contou.
“Ele me olhou, levantou da mesa e veio para cima de mim. Fiquei estupefata. Ele falou ‘venha cá’. Eu fugi, saí da sala dele com tanto ímpeto, que tinha uma escada, despenquei da escada do nono andar até o oitavo andar, que era o departamento comercial. Quebrei o braço”, completou.
Na época, a apresentadora disse que denunciou o assédio na empresa em que trabalhava, mas o diretor não recebeu qualquer punição. Questionada se gostaria de dar nomes aos envolvidos na situação, ela disse que não. “Não há necessidade. Todo o mundo já percorreu o seu caminho.”
Anos depois, Ana Maria contou que encontrou esse diretor em um restaurante de São Paulo, e que ele conhecia a pessoa que estava com ela. “O cara parou e cumprimentou [o empresário que estava ao lado dela]. E quando olhou para mim, baixou o olho e se mandou”, disse.
Ela também afirmou que acredita que o mundo “está mudando” em relação ao assédio sexual e moral. “Aqui em São Paulo, na década de 1970, quase 1980, antes da Tupi quebrar e fechar, sem dúvida nenhuma, tinham diretores, não só de TV, mas de empresas, de rádio, jornal, e máquina de fazer parafuso. Qualquer coisa onde a mulher trabalhasse, e ainda mais no mercado de audiovisual, porque era novo e glamourizado, sem dúvida nenhuma existiam [casos de assédio]. Acho que o mundo está mudando com relação a isso”, disse.
BRIGA COM O PAI
Ana Maria Braga se emocionou ao relembrar dos conflitos com o pai. A apresentadora contou que queria estudar, mas ele não permitia. Por causa disso, ela fugiu de casa e foi pedir abrigo para uma tia, que morava em outra cidade.
“Quando eu nasci ele tinha 62 anos, ele era um italiano muito bravo, andava armado, de chapéu, terno de linho. Chegou lá [na casa da tia] com um 38 dizendo: ‘Você vai embora'”, disse. A apresentadora conta que voltou, mas insistiu em estudar. O pai, então, disse que ela não contaria com o apoio financeiro dele.
Diante dessa situação, Ana Maria afirmou que teve de começar a trabalhar cedo e isso a fez amadurecer. No entanto, ela não conseguiu se reconciliar com o pai. Cerca de seis meses depois, quando ela buscou contato, ele já estava com Alzheimer. “Quando eu voltei lá, ele nunca mais me reconheceu”, disse ela, emocionada.
VOLTA PARA SÃO PAULO
Na entrevista, a apresentadora falou também sobre o retorno das gravações do Mais Você para São Paulo. Segundo ela, a volta da sede da atração à capital paulista é negociada com a Globo há mais de um ano. Apesar de todas as especulações que surgiram na mídia que o programa poderia acabar, Ana Maria disse que isso nunca a abalou.
“Agora, por exemplo, quando começaram a falar que eu não voltava mais, eu sabia exatamente o que foi tratado e qual seria o futuro. Há um ano a Globo estava se preparando comigo sobre a volta para São Paulo. É minha casa, eu não tive insegurança de dizer que precisava procurar outra emissora. É uma especulação, não me atinge, eu estou fazendo projeto. Como é que eu posso ficar insegura? Nunca teve isso, só acontece fora, comigo não”, afirmou.