Tensão entre EUA e Ucrânia está alta desde bate-boca entre presidentes na sexta-feira (28)
Aliados do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificaram a pressão sobre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que mude sua postura a respeito da guerra com a Rússia ou se afaste do cargo, elevando ainda mais a tensão com o líder ucraniano.
Por outro lado, líderes europeus demonstraram apoio a Zelensky em uma reunião em Londres neste domingo (2). O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, convocou seus colegas a aumentarem os esforços de defesa, apenas dois dias depois de Trump e o vice-presidente JD Vance entrarem em atrito com Zelensky no Salão Oval, levando o presidente ucraniano a se retirar mais cedo sem assinar um acordo previamente planejado sobre minerais.
O desentendimento pegou líderes de surpresa ao redor do mundo e lançou dúvidas sobre o próximo capítulo da guerra, iniciada há três anos com a invasão russa à Ucrânia, além dos esforços de Trump para pôr fim ao conflito.
Zelensky argumentou, durante a reunião, que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não cumpriu um acordo de cessar-fogo de 2019, classificando-o como um assassino e um terrorista.
O conselheiro de segurança nacional de Trump, Mike Waltz, afirmou que ainda não está claro para o governo se Zelensky está disposto a negociar o fim da guerra. Waltz ressaltou que o objetivo de Trump é estabelecer uma paz duradoura entre Moscou e Kiev, envolvendo concessões territoriais em troca de garantias de segurança lideradas pela Europa.
Questionado se Trump desejava que Zelensky renunciasse, Waltz declarou ao programa “State of the Union” da CNN:
“Precisamos de um líder que possa lidar conosco, eventualmente lidar com os russos e acabar com esta guerra.”
“Se ficar claro que as motivações pessoais ou políticas do presidente Zelenskiy divergem do fim dos combates em seu país, então acho que temos um problema real em nossas mãos.”
O senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, aliado de Trump e defensor da Ucrânia, questionou se os Estados Unidos ainda poderiam trabalhar com Zelensky após o embate na Casa Branca, em declarações a repórteres na sexta-feira (28).
O presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, manifestou opinião semelhante no domingo:
“Algo precisa mudar. Ou ele precisa cair em si e voltar à mesa com gratidão, ou outra pessoa precisa liderar o país para fazer isso”, disse o republicano ao programa “Meet the Press” da NBC, referindo-se a Zelenskiy.
“Eu gostaria de ver Putin derrotado, francamente. Ele é um adversário dos Estados Unidos. Mas neste conflito, temos que pôr fim a esta guerra.”
“Absolutamente vergonhoso”
O senador americano Bernie Sanders, um independente de Vermont alinhado aos democratas, rechaçou a ideia de que Zelensky deva renunciar.
“Eu acho que é uma sugestão horrível. Zelensky está liderando um país, tentando defender a democracia contra um ditador autoritário, Putin, que invadiu seu país”, disse Sanders no “Meet the Press”. O senador republicano James Lankford, de Oklahoma, também no mesmo programa, afirmou não concordar com os pedidos de renúncia de Zelensky.
Os democratas manifestaram indignação com o teor do encontro de Trump com o líder ucraniano.
O senador americano Chris Murphy, de Connecticut, foi enfático ao criticar a aproximação do governo com a Rússia, em detrimento de outras nações democráticas:
“É absolutamente vergonhoso o que está acontecendo agora. A Casa Branca se tornou um braço do Kremlin”, declarou no “State of the Union” da CNN.
“Todo o propósito dessa reunião… foi uma tentativa de reescrever a história para firmar um acordo com Putin que entregue a Ucrânia a ele. Isso é desastroso para a segurança nacional dos EUA.”
Waltz classificou como “absolutamente falso” o argumento de que a reunião no Salão Oval teria sido uma armadilha, atribuindo à Ucrânia a necessidade de mudar de posição.
“Estaremos prontos para nos envolver novamente quando eles estiverem prontos para fazer a paz”, afirmou o secretário de Estado Marco Rubio ao programa “This Week” da ABC. Ele declarou não ter falado com Zelenskiy ou com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, desde o encontro de sexta-feira.
“Ninguém aqui está dizendo que Vladimir Putin vai ganhar o Prêmio Nobel da Paz este ano”, disse Rubio, ao defender negociações com Moscou. “Você não vai trazê-los à mesa se ficar chamando-os de nomes, se estiver sendo antagônico.”
A democrata Amy Klobuchar, senadora dos EUA por Minnesota, disse no “This Week” que ficou “chocada” com o confronto no Salão Oval, revelando ter se encontrado com Zelenskiy antes de sua ida à Casa Branca na sexta-feira:
“Ainda há uma abertura aqui” para um acordo de paz, afirmou ela.