Desde a noite desta segunda-feira, 17, parte dos funcionários dos Correios está em greve em todo o país. Nessa terça-feira, os Correios emitiram uma nota à imprensa alegando que 83% do efetivo total está trabalhando regularmente, assim como a rede de atendimento está aberta em todo o país. Porém, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect), que coordena a paralisação, afirma que os números divulgados não refletem a verdade. “O balanço que os Correios fazem da adesão não correspondente ao balanço do sindicato que fizemos hoje. Uma pesquisa entre os setores operacionais e a área administrativa informa que de 67% a 70% das unidades aderiram a paralisação. Inclusive, a vinculação na mídia durante o dia teve um impacto substancial aos trabalhadores que aderiram à greve“, informa Emerson Marinho, secretário de comunicação da Fentect, à Jovem Pan.
Entre as reivindicações do grupo grevista está o restabelecimento de direitos que vêm sendo cortados pelos Correios desde o dia 1 de agosto. “Mesmo com o julgamento do STF, que coloca em discussão a vigência do nosso acordo coletivo, os Correios já anteciparam desde o dia 1º de agosto que iam tirar vários direitos do trabalhador”, diz. Segundo Emerson, o período de 2 horas por dia para mães amamentarem seus filhos foi cortado, mas o que mais mexeu com o grupo foi o corte no auxílio para filhos de empregados com necessidades especiais, como paralisia infantil ou alguma outra doença grave. “Era uma ajuda de R$ 1.000 e nem tinha um impacto grande, porque não tem muitos funcionários com filhos assim. O corte faz com que essas crianças fiquem sem nenhum tipo de assistência. Nós não vamos retomar enquanto os Correios não restabelecerem os direitos que os trabalhadores conquistaram ao longo de 30 anos e que são fundamentais para dar qualidade de vida para os seus familiares”, completou o secretário.
Outra reivindicação é sobre a negligência dos Correios durante a pandemia. Em nota, os Correios anunciaram que adotaram medidas contra a Covid-19 para a proteção dos funcionários, entre elas, afastar quem era do grupo de risco, mas Emerson alega que essas decisões só foram estabelecidas depois que o sindicato e a Fentect entraram na Justiça. “No início da pandemia, enviamos uma carta para saber quais seriam as providências tomadas para a prevenção dos trabalhadores. Surpreendentemente, o presidente mandou uma carta, e nós temos essa carta, dizendo que lavar a mão era o suficiente. No dia que foi anunciado o Decreto de Calamidade Pública, os Correios adotaram o protocolo da OMS, mas isso na teoria, porque na prática, não aconteceu. Precisamos demandar judicialmente para garantir o fornecimento dos EPIs, que no caso da pandemia é a máscara, a luva e o álcool em gel. A adoção de ações para prevenir a vida dos trabalhadores não foi feita de maneira espontânea”, lembrou.
Como manifesto, Emerson ainda contou à Jovem Pan que a luta é pela empresa que ele considera ser do povo brasileiro. “Os Correios estão presentes nos 5.570 municípios e hoje exercem um papel social que não pega um centavo do governo federal. É uma empresa autossustentável e que vem se mantendo ao longo dos anos com a produção dos trabalhadores. Não é uma empresa que dá prejuízo, como é colocado pelo general Floriano. Ele colocou também que os trabalhadores querem a manutenção dos privilégios. Um trabalhador dos Correios ganha, em média, um salário de 23 anos, como no meu caso, R$ 2.300 reais e vale alimentação de mil reais, então nós não consideramos isso privilégio, porque é uma das empresas públicas que mais paga mal seus trabalhadores. Privilégio é o que acontecendo com as indicações políticas do governo federal dentro dos Correios, aonde o general Floriano, além de acumular sua aposentadoria de 25 mil reais, também recebe 47 mil de salário e tá fazendo, dentro da empresa, uma ampliação de cabide político trazendo generais aposentados, coronéis aposentados, para receber salário de 30 a 40 mil reais”, ressaltou.
A visão da Fentect é de que a greve tem objetivos claros. “Primeiro é restabelecer os direitos retirados pela empresa de forma unilateral, e também uma luta contra a entrega da empresa feita pelo governo federal e pelo atual presidente da empresa, General Floriano, para enxugar a folha dos funcionários e deixar a empresa palatável aos olhos do capital privado para vender. Nós estamos lutando pela manutenção da empresa como uma empresa pública do povo brasileiro”, finaliza Marinho.