Logo que a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil veio a preocupação como essa nova doença atingiria as favelas e periferias do país. A intensa circulação de pessoas revela a desigualdade social. Nas comunidades, os moradores não podem se dar ao luxo de parar de trabalhar ou de fazer home office. Ao mesmo tempo, a disparidade social também está no tamanho das casas e na quantidade de pessoas que moram nelas. “Na minha casa são quatro. Eu, meu esposo e meus dois filhos. Só que na casa de baixo mora o meu pai e a minha mãe e, na casa de cima, o meu irmão e a minha cunhada. Então, totalizando, são oito pessoas”, conta a moradora Gislene Azevedo. Para saber o impacto da pandemia na vida da população mais carente, a Jovem Pan percorreu a comunidade de Heliópolis, na zona Sul da capital paulista, que com 1.000.000m² e 200.000 habitantes é a maior favela de São Paulo.
Heliópolis não tem uma estatística oficial do coronavírus, mas região do Sacomã, onde ela está localizada, já registrou 12.454 casos da Covid-19 até o mês de julho, além de 326 mortes no mesmo período, segundo a prefeitura. A substantificação e abaixa testagem, no entanto, levam a crer que esse número pode ser bem maior. É o caso da professora Gislene Azevedo e da família ela. Ela, o marido, os dois filhos, o cunhado e a mãe tiveram os sintomas da Covid-19, mas ninguém conseguiu fazer o teste para confirmar se teve a doença. “Diagnosticado não foi ninguém, apenas a minha mãe que teve a tomografia que constou que ela estava com manchas no pulmão que eram do coronavírus, mas não fez o teste. E nós que tivemos todos os sintomas, como febre, sem paladar, sem olfato. Então nós ficamos bem debilitados, muita dor no corpo, meus filhos tiveram pneumonia, mas comprovado que foi Covid-19 não teve como comprovar porque não tinha teste na época”, explica.
Com tanta gente morando no mesmo lugar a adoção do isolamento social é praticamente impossível. “É difícil porque a gente desce na mesma escada, sai no mesmo portão. Então é quase impossível, só se trancasse em um cômodo”, conta a professora. Enquanto algumas pessoas tentaram ficar em casa, outras não puderam deixar de trabalhar, como é o caso da cabeleireira Jaqueline Silva dos Santos, de 29 anos, que mantém um salão nos fundos da casa onde mora. “Eu continuei trabalhando. No dia 16 quando decretaram a quarentena, eles falaram que era para fechar tudo, mas como sou eu que ajudo a minha mãe e cuido da renda da casa não teve como fechar. Se você fecha, você não recebe e não trabalha. Então eu continuei aberta, mas com medo porque toda a rua estava fechada e apenas eu aberta”, afirma.
A principal diferença agora é que Jaqueline não deixa a mãe, de 65 anos, ajudar a lavar, secar e escovar o cabelo das clientes. Ela também conta que redobrou a higiene. “A roupa que eu uso aqui, todo dia eu troco e coloco para lavar, porque como não tem como saber quem tem [a Covid-19]. Então eu continuo atendendo normal, mas cada pessoa que atendo eu lavo tudo, passo álcool 70 e desinfeto tudo”, afirma. Jaqueline admite que pulou a quarentena, mas conta que não foi a úncia. “Muita gente sai sem máscara. Festa é o que mais tem aqui. Teve um dia, quando começou junho, que começou uma festa junina aqui. Eu pensei o povo é louco mesmo, decorando a rua [para festa junina]. Se você está em uma comunidade, você tem que se ajudar”, finaliza.