SÃO PAULO – No último sábado (15), o Ministério da Saúde da Rússia afirmou que o país iniciou a produção do seu primeiro lote de vacinas contra a Covid-19.
Ainda que a vacina russa seja a primeira a ser aprovada e regulamentada no mundo, o imunizante, chamado de “Sputnik V”, levanta ceticismo na comunidade cientifica internacional.
Regulamentada e exposta ao mundo como a principal aposta governo russo para chegar à frente na corrida por um imunizante contra o novo coronavírus, a vacina não teve seus resultados sobre os ensaios clínicos apresentados até agora.
Os ensaios clínicos são uma etapa fundamental para avaliar a segurança e a eficácia de uma vacina e envolvem milhares de testes em seres humanos.
Muitos especialistas, incluindo Anthony Fauci, um dos principais epidemiologistas dos EUA, teme que Moscou esteja colocando seu prestígio nacional em xeque ao pular etapas primordiais do desenvolvimento de uma vacina.
“Espero que os chineses e os russos estejam realmente testando a vacina antes de administrá-la a qualquer pessoa. Porque afirmar ter uma vacina pronta para distribuição antes de fazer o teste é problemático, na melhor das hipóteses”, disse Fauci em depoimento, segundo a CNN.
No depoimento, Fauci acrescentou que continua otimista de que os Estados Unidos serão capazes de produzir sua própria vacina até o final do ano, sem evitar ou burlar os padrões de segurança.
Corrida pelas vacinas?
A crise do coronavírus levou nações a uma verdadeira corrida tecnológica para serem as primeiras a desenvolver uma vacina. E a Rússia, no entanto, vem clamando vitória por ter sido o primeiro país a ter desenvolvido uma vacina segura.
“O primeiro lote da nova vacina contra a covid-19 foi produzido no Centro de Pesquisas Gamaleya”, anunciou o ministério da Saúde da Rússia em um comunicado, citado pelas agências de notícias do país.
Na última terça-feira (11), o presidente russo Vladimir Putin havia anunciado que a vacina russa era “bastante eficaz” e disse ainda que um de suas filhas foi vacinada com a Sputnik V.
Ao analisarmos o nome escolhido pelo governo de Moscou para sua nova vacina, já é possível identificar o sentimento de competição envolvendo o medicamento.
Longe de ser uma nomeação ao acaso, o nome Sputnik V foi escolhido como uma clara referência ao icônico satélite enviado ao espaço pela União Soviética (URSS) em 1957 – um capitulo marcante na chamada corrida espacial que marcou os anos de Guerra Fria entre EUA e URSS.
Vacina russa e o acordo com o Paraná
Na última quarta-feira (12), o governo do Paraná anunciou assinou um acordo com a Rússia para produzir e distribuir uma vacina contra o coronavírus. O acordo foi firmado em um encontro entre o governador do estado, Ratinho Junior (PSD), e Sergey Akopov, embaixador da Rússia no Brasil.
O acordo prevê que a vacina desenvolvida pelo governo russo possa ser distribuída e produzida nacionalmente pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
“É importante não queimar etapas, e a investigação [científica] é fundamental agora. Como o termo prevê estudos e validações, não vejo a possibilidade de atrasos”, disse Jorge Callado, presidente do Tecpar ao canal de notícias GloboNews.
“Antes da liberação, não há possibilidade de colocar nada em prática. Reitero que a prudência e a segurança são palavras-chave nesse processo”, pontuou o presidente do Tecpar.
Estatísticas jogam contra a vacina
Segundo um recente estudo da Plos One, revista científica da Public Library of Science, projeto global sem fins lucrativos que tem o objetivo de criar uma biblioteca de revistas científicas dentro do modelo de licenciamento de conteúdo aberto, as chances de prováveis candidatas para uma vacina darem certo é de seis a cada 100.
O relatório ainda afirma que a média de tempo para produção de uma vacina e sua ampla disseminação global é de cerca de 10,7 anos.
Para efeito de comparação, caso a vacina para o novo coronavírus saia ainda neste ano ou no próximo, esse já seria, de longe, o menor tempo hábil que o ser humano levou para desenvolver uma vacina.
A vacina mais rápida a ficar pronta foi a contra a caxumba, criada nos anos 1960, em um processo que levou quatro anos.
Portanto, para conter a crise do novo coronavírus, laboratórios e cientistas do mundo inteiro estão literalmente correndo contra o tempo e as estatísticas para encontrar a melhor solução no menor tempo possível.
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