(Bloomberg) — A decisão da Rússia de aprovar uma vacina contra o coronavírus antes de testes cruciais demonstrarem que é segura e eficaz gera temores de que a política falará mais alto do que a saúde pública.
O plano do país para iniciar vacinações em massa já em outubro pode pressionar outros governos a passar na frente de autoridades reguladoras e pular etapas importantes, colocando em risco as pessoas que forem imunizadas. Um grande revés na Rússia também pode abalar a confiança do público nas vacinas.
Há muito em jogo no esforço de encerrar uma crise que já matou mais de 750.000 pessoas em todo o mundo. O governo do presidente americano Donald Trump ativou a Operação Warp Speed, um esforço sem precedentes dos EUA para acelerar o desenvolvimento e fabricação de uma vacina contra a Covid. Uma enorme mobilização ocorre na China para imunizar a população. O anúncio do presidente Vladimir Putin em 11 de agosto sobre o produto da Rússia traz uma nova perspectiva.
O lançamento de vacina com evidências limitadas de seu funcionamento pode ter consequências prejudiciais, disse Paul Offit, diretor do Centro de Educação em Vacinas e infectologista do Hospital Infantil da Filadélfia.
“Isso pode fazer com que outros líderes digam: ‘Olha, eles são fazendo isso e é bom o suficiente. E se isso for bom o suficiente para eles, não queremos ficar atrás. Nós também queremos proteger nossas populações’”, disse ele.
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A história tem lições sobre a importância de uma abordagem rigorosa ao desenvolvimento de vacinas, isolada da política. Percepções equivocadas sobre a segurança de vacinas bem estabelecidas já se espalharam. Problemas reais, embora raros, intensificam esses temores e podem mostrar como uma vacina de má qualidade contra a Covid poderia distorcer e inflamar ainda mais a opinião pública.
Planos acelerados
Autoridades russas rejeitaram essas preocupações sobre segurança e sobre a velocidade dos esforços no país. Segundo eles, o ciúme do Ocidente alimenta as críticas à vacina, apelidada Sputnik V, em referência ao lançamento do primeiro satélite espacial pela União Soviética, em 1957. Putin afirmou que uma de suas filhas já foi vacinada.
Segundo as autoridades, o plano é começar a inocular profissionais de saúde e outros grupos de risco até o final do mês e voluntários que serão monitorados de perto.
Os russos acrescentam que outros países também estão se movendo rapidamente. No mês passado, a Rússia iniciou os testes clínicos para uma segunda vacina, desenvolvida pelo laboratório Vector em Novosibirsk.
Enquanto isso, a farmacêutica britânica AstraZeneca, parceira da Universidade de Oxford, e a empresa americana de biotecnologia Moderna ainda estão na fase final de testes que envolvem dezenas de milhares de pessoas.
Embora o presidente Trump tenha dito que a vacina pode estar pronta até a eleição, em 3 de novembro, Anthony Fauci, principal autoridade em doenças infecciosas dos EUA, disse que pode demorar até meados de 2021 para que as vacinas cheguem a grande parte do público.
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