O ministro da Economia, Paulo Guedes, está mais isolado e enfraquecido politicamente com a saída sistemática de auxiliares, e já não conta mais com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no encaminhamento da agenda econômica de reformas e privatizações. Essa é a opinião de Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal. O distanciamento do chefe do Executivo com o projeto liberal do “posto Ipiranga” se mostrou evidente com o pedido de demissão dos secretários especiais Salim Mattar, responsável por organizar a venda de estatais, e de Paulo Uebel, encarregado pela desburocratização da máquina pública, nesta terça-feira, 11. “O ministro não está tendo o apoio do próprio presidente da República que ele imaginou que iria ter. E agora está pagando um preço muito alto por isso, não só pela frustração dos membros do governo que estão saindo, como da sua própria força política, que antes era muito mais forte.”
A falta de interesse do Planalto na agenda reformista, muitas vezes adotando um caminho oposto, como a defesa de alguns ministros pelo rompimento do teto de gastos, deve aproximar Guedes cada vez mais do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), na tentativa de manter o projeto liberal. “Ele não vai mais se apoiar no Executivo, onde antes tinha uma hegemonia absoluta, mas sim no Congresso, onde as coisas são muito mais difíceis e precisa de muito mais negociação”, afirma Cintra. Nesta quarta-feira, 12, Bolsonaro defendeu a agenda de privatizações e disse que o teto de gastos é um “norte” ao governo federal.
Apesar do enfraquecimento político, Guedes não irá desembarcar do governo. Em julho, o ministro disse que só sairá “abatido à bala ou removido à força”. Para Cintra, o pedido de demissão dos secretários especiais deixa o “posto Ipiranga” pessoalmente mais forte e determinado em fazer cumprir o seu ideal econômico. “O Paulo Guedes é um homem muito resiliente, e essas dificuldades os fortalecem pessoalmente. Ele vai entrar na luta com mais força do que antes, o problema é que ele está cada vez mais isolado. A luta se torna mais difícil e complicada.”
Os pedidos de demissão de Mattar e Uebel engrossam a lista de baixas significativas no Ministério da Economia nas últimas semanas. Em junho, Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional, foi o primeiro a pedir para sair. Ele foi seguido por Caio Megale, diretor de programas da Secretaria de Fazenda, e mais recentemente por Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil. Além do peso das baixas, o motivo dos pedidos de demissão chamam a atenção para um problema cada vez mais evidente: a maior parte dos auxiliares justificou o desembarque pela insatisfação com a forma que o governo federal está lidando com as pautas econômicas. “É muito difícil impor uma agenda liberal quando não se tem o apoio do próprio chefe do Executivo. A reforma administrativa, por exemplo, não acredito que venha nessa gestão. Estamos praticamente no meio do ano, temos o problema com a pandemia, tem a reeleição, e uma pauta como essa causa muito desgaste ao governo”, diz Cintra.