No momento em que crescem as pressões pelos “puxadinhos” nos gastos do governo, a entrevista de Paulo Guedes e Rodrigo Maia funcionou como um apelo do ministro por respaldo político do presidente Jair Bolsonaro e como uma tentativa dupla de blindagem do presidente da Câmara – da agenda e de si próprio.
Do lado do ministro, foi digno de nota o alerta público e forte que fez — diante do silêncio do presidente nos episódio recentes — ao citar explicitamente que o caminho de “pular a cerca” nas regras fiscais leva a uma “zona sombria”, do “impeachment”. O pedido por um respaldo público à agenda da economia está feito. Agora, é a vez de observar se ele teve eco na Presidência da República.
A fala se dá em momento difícil para a equipe econômica, quando se multiplicam as iniciativas insólitas no governo e no Congresso para expandir as despesas e em meio ao sinal negativo dado pela “debandada” no time, que deixou de ver suporte político para avanço das privatizações e da reforma administrativa.
As saídas de Paulo Uebel [secretário de Desestatização e Privatização] e Salim Mattar [Desburocratização, Gestão e Governo Digital] pouco – ou nada – impactam o dia a dia da equipe econômica. O diagnóstico dos dois foi correto: nem Bolsonaro e nem o núcleo político do governo apoiam reforma administrativa ou privatizações, agendas que não avançarão, como inclusive sempre afirmamos.
Nessa situação, o que convém observar não é quem sai, mas sim quem chegará: será significativo entender se Guedes – apostamos que sim – terá autonomia para substituir os secretários, ou se sofrerá pressões dos aliados de Bolsonaro no Congresso ou dos militares nas substituições. Isso seria negativo.
Do lado de Maia, ele reafirma na entrevista sua defesa da agenda fiscal e, quando aponta que o caminho para viabilizar investimentos e novos gastos é a insistência nas PECs 438 e na do pacto federativo, consegue fazer duas blindagens: a das regras fiscais e a de si mesmo, em caso de desvios negativos. Transfere ao governo a responsabilidade por encontrar apoio para que elas avancem. Se der certo, colhe os louros. Se der errado, foi o governo quem não conseguiu.
A insistência para que se concentrem gastos extras em 2020 também tem outra razão de ser: para o grupo que não se aproveita da popularidade de Bolsonaro, o cheque em branco nos dois próximos anos não é tão atrativo. Esse será um debate cada vez mais presente no Congresso.
Há dias apontamos que a agenda fiscal está na defensiva, em que pese a eloquência de seus defensores. Seja no Congresso, seja no Governo, há quem acredite nas mais variadas receitas para a recuperação econômica e estas alas estão mais reforçadas, ou no mínimo mais ousadas. Se restava dúvidas quanto a isso, hoje o ministro Paulo Guedes deixou o assunto muito claro.
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