Conhecido como Bokinha, o criminoso seria um dos homens de confiança de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia que atua no Rio de Janeiro. Na última segunda-feira (23), a morte do sobrinho de Zinho provocou uma série de ataques na Zona Oeste. Ao todo, 35 ônibus e 1 trem foram queimados.
Uma operação da Polícia Civil na tarde desta quinta-feira (26) terminou com o chefe da milícia que atua em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, baleado. O criminoso Marcelo de Luna Silva, de 34 anos, é conhecido como Bokinha e seria um dos homens de confiança de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia que atua no Rio de Janeiro.
Policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) e do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco) entraram em confronto com Bokinha e mais um miliciano que seria seu segurança. Os dois foram baleados. Ainda não há informação sobre o estado de saúde deles.
Na última segunda-feira (23), a morte de Matheus Rezende, o Faustão, sobrinho de Zinho, provocou uma série de ataques na Zona Oeste. Ao todo, 35 ônibus e 1 trem foram queimados. Segundo a Rio ônibus, a última segunda foi o dia com mais coletivos incendiados na história da cidade.
Com o recorde de ônibus incendiados em um dia, o prejuízo financeiro, só com os veículos, ultrapassou os R$ 35 milhões.
Segundo apurou g1, os milicianos que ordenaram os ataques na Zona Oeste do Rio ofereceram R$ 500 por cada ônibus incendiado. A orientação era que a ação fosse filmada para que a quantia fosse paga.
O ataque teria como objetivo garantir a fuga de Zinho, que estaria no mesmo local onde o sobrinho foi morto, na comunidade Três Pontes, também na Zona Oeste. A polícia ouviu em um rádio apreendido um alerta para que o “Zero” fosse protegido. “Zero” é como Zinho é chamado internamente pelo bando.
Histórico da milícia de Zinho
Atualmente comandada por Zinho, a maior milícia da Zona Oeste é resultado de uma forte política expansionista que teve início quando a família Braga assumiu o comando da Liga da Justiça e refundou o grupo paramilitar.
A Liga da Justiça surgiu em Campo Grande, na Zona Oeste, no final dos anos 1990. A milícia — fundada pelos agentes da Polícia Civil Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, ex-vereador do Rio assassinado a tiros em 2022, e o ex-deputado Natalino José Guimarães —, começou atuando de forma concentrada, com foco na exploração de transporte clandestino e intermediações de ocupações urbanas.
Jerominho foi preso em 2007, e Natalino, em 2008, quando a chefia da Liga da Justiça era compartilhada com outros três criminosos — Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, preso em 2009; Toni Ângelo de Souza Aguiar, preso em 2013, e Marcos José de Lima, o Gão, preso em 2014. Todos eram policiais militares.
Com as prisões, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, ex-traficante que ganhou prestígio entre os integrantes do grupo paramilitar, assumiu o comando da nova milícia.
Tratava-se da primeira mudança significativa verificada no grupo: pela primeira vez, a liderança não era envolvida diretamente com a estrutura policial.
Segundo os investigadores, Carlinhos Três Pontes foi quem iniciou o processo de expansão da atuação da milícia no estado e intensificou a parceria com o tráfico de drogas.
Ao contrário da Liga da Justiça, que se concentrava em pequenos bairros da Zona Oeste, a Firma, de Três Pontes, se expandiu para a Baixada Fluminense, Itaguaí e Seropédica, cidades da Região Metropolitana do RJ, entre 2014 e 2017.
No entanto, Carlinhos Três Pontes foi morto em 2017 durante uma operação policial contra a milícia. A chefia do grupo passou então para as mãos de Wellington da Silva Braga, o Ecko, um dos irmãos. O grupo foi rebatizado de Bonde do Ecko.
Com mão de ferro, Wellington Braga comandou o grupo paramilitar entre 2017 e 2021 e expandiu seu domínio para diversos bairros e municípios do RJ — novamente em oposição ao tráfico.
No entanto, em junho de 2021, Ecko também morreu em decorrência de uma operação policial para prendê-lo. A maior milícia do RJ passou então a ser comandada por outro integrante da família: Zinho, irmão de Ecko e Três Pontes. Ele continua foragido apesar da operação desta segunda (23).
Entretanto, com a morte de Ecko, o Bonde rachou e houve uma intensa disputa por territórios entre os bandos de Zinho e de Danilo Dias Lima, o Tandera, ex-braço direito de Ecko. Com a rivalidade, houve uma escalada da violência nas ações da milícia em todo o estado.