Ao menos cinco estados brasileiros já registraram recebimento de sementes misteriosas encaminhadas junto com encomendas que vieram da China. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram notificados casos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul. Autoridades agrícolas do Paraná também confirmaram que moradores de cinco cidades, incluindo Curitiba, receberam pacotes com as sementes. Em algumas situações, mesmo pessoas que não encomendaram produtos chineses receberam os pacotes, informou a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). Os primeiros relatos no Brasil sobre as sementes foram publicados no início do mês. No dia 14 de setembro, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) emitiu alerta oficial sobre o caso, no entanto, segundo o órgão paranaense, há pessoas que afirmaram terem recebido pacotes suspeitos há mais de um ano.”O primeiro relato que recebemos foi na quarta-feira passada [dia 16] e, desde então, outras pessoas ligaram para a Adapar para informar que também receberam os pacotes”, afirma Renato Rezende Young Blood, gerente de sanidade vegetal da estatal paranaense. Ao menos 10 casos foram registrados no estado até esta terça-feira, 22.
Segundo o Ministério da Agricultura, os pacotes recolhidos nos estados foram encaminhados ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA), em Goiânia, para análises técnicas. Não há previsão para a apresentação dos resultados. O órgão confirma que todos os casos notificados foram de pacotes originários da China. “A entrada de sementes no Brasil só pode ser originária de fornecedores de países com os quais o Mapa já tenha estabelecido os requisitos fitossanitários. Esse material deve ser certificado pelas autoridades fitossanitárias do país exportador. O ministério, antes de autorizar a importação da semente de determinado país, realiza análise de risco para identificar quais pragas podem ser introduzidas por aquelas sementes. A partir disso, ficam estabelecidas medidas fitossanitárias a serem cumpridas no país de origem para minimizar o risco de introdução de novas pragas no Brasil por meio da importação desse material”, informou o governo federal.
O catarinense Gabriel Zapella, de Jaraguá do Sul, foi um dos primeiros brasileiros a relatar o recebimento das sementes, no dia 8 de setembro. Os pacotes com diversos tipos diferentes de sementes chegaram junto com produtos de decoração comprados em um site chinês. “Eu já visto notícias sobre o recebimento dessas sementes nos EUA e sabia que não era para plantar ou jogar fora. Eu publiquei uma foto no Instagram e marquei a Secretaria de Agricultura de Santa Catarina e o Ministério da Agricultura”, afirma. No dia seguinte, um representante da Cidasc foi recolher o pacote misterioso.
As autoridades orientam que os pacotes não sejam abertos, e que as pessoas não descartem ou plantem as sementes pelo risco de introduzir novas pragas ou doenças que não existem ou já foram erradicadas no país. “Para evitar o risco fitossanitário, o Mapa atua no controle do e-commerce internacional com equipe dedicada a fiscalizar e impedir a entrada de material sem importação autorizada no país. Caso isso venha a ocorrer no Brasil, o ministério espera que a sociedade colabore e siga as orientações repassadas”, informou a pasta da Agricultura. O coordenador do Programa de Certificação, Rastreabilidade e Epidemiologia Vegetal da Adapar, Juliano Farinacio Galhardo, reforça o alerta para que as sementes não sejam plantadas, mesmo que pareçam estar sadias. “Muitas das pragas e doenças que elas podem conter são invisíveis a olho nu, e somente podem ser detectadas por meio de análises laboratoriais. Por isso a importância de serem entregues à Adapar ou ao Mapa, para providenciar as análises e o descarte adequado, a fim de evitar a introdução de novas pragas no Estado.” As autoridades afirmam que todo pacote suspeito deve ser encaminhado para as representações municipais, estaduais ou federais de controle agropecuário.
Além do Brasil, há relatos do recebimento das sementes chineses em ao menos 27 localidades nos Estados Unidos, além de casos no Canadá, Inglaterra e Portugal. Segundo o Ministério da Agricultura, técnicos do governo federal estão em contato com autoridades internacionais para compartilhar informações sobre o caso. “Segundo informações do órgão de defesa agropecuária americano (APHIS-USDA) enviadas ao Mapa, o caso está sob investigação em conjunto com outras agências de segurança dos Estados Unidos. Até o momento, as evidências apontam para uma ação conhecida como brushing scam – estratégia do e-commerce utilizada para gerar números falsos de pedidos e reviews positivos, o que beneficiaria o vendedor on-line ou o site”, informou o governo federal.