Muito se fala sobre o Bitcoin ser uma boa alternativa para manter o poder de compra no longo prazo, por ele ter uma emissão decrescente e finita. Ser desinflacionário do ponto de vista econômico o transformou no que muitos chamam de ouro digital.
Por outro lado, os compradores têm receio ao adquirir um ativo como esse. Eles fazem isso esperando que alguém compre esse item por um preço maior no futuro. Isso porque que esse ativo não rende nada, não paga dividendos ou juros. Esse é o caso do ouro e outros metais. E era o caso do Bitcoin até pouco tempo!
Estruturas como a da AAVE, Compound e Maker, entre várias outras que estão sendo criadas sob a alcunha de DEFI (Decentralized Finance), estão tornando possível que os Bitcoins que você tem em carteira sejam emprestados – e você ganhe juros com isso.
O mundo cripto é totalmente transparente e open-source. Todos podem ver as taxas de juros aplicadas e os volumes negociados por essas plataformas.
Até o momento, existem mais de 90.000 Bitcoins (aproximadamente US$ 1 bilhão) aplicados e rendendo juros. O valor pode não parecer muito alto. Mas, se considerarmos que as estruturas que viabilizam essa aplicação existem desde maio deste ano, eu diria que é um crescimento espetacular.
Os juros recebidos não são lá essas coisas, muito próximos de zero atualmente. Mas eles são determinados por blocos da rede Ethereum a cada 15 segundos, aproximadamente. Tenho confiança de que mudarão bastante a partir das inúmeras novas estruturas que estão sendo criadas.
Esse processo implica em gerar tokens de Bitcoins que sejam negociados (aplicados) na rede Ethereum, uma tecnicidade que para a maioria pouco importa, mas que traz alguns riscos a serem analisados.
Vale aqui fazer uma ressalva. Essas estruturas são recentes e, obviamente, sujeitas a erros e percalços nesse caminho. Portanto, caso for usá-las, tenha isso em mente. Use-as com moderação.
Duas coisas me chamam muito a atenção nesse processo de DEFI.
A primeira é a velocidade em que as inovações estão ocorrendo. O fato de todas essas plataformas terem código aberto é um enorme facilitador para que pessoas de qualquer parte do mundo possam analisar o código de uma plataforma que já está operacional e desenvolver outra onde considere uma melhora em um dos pontos dessa antiga. Elas viram um ambiente de open inovation mundial e colaborativo.
A segunda tem muito a ver com o papel das moedas no mundo. Muito se critica (ou se criticava) o Bitcoin por ele ser um ativo que não rendia juros e, portanto, dependente do fato que outra pessoa o compraria no futuro por um preço maior do que você teria pago. Mas pense que se você não fizer nada com a nota de real ou dólar na sua carteira, ela também não renderá juros.
A diferença é que até pouco tempo atrás (mais ou menos seis meses), o mercado financeiro tradicional te dava formas de você remunerar os seus reais ou dólares (por meio do Tesouro Direto, CDBs, bonds e por aí vai) e no mundo crypto não se conseguia fazer isso com o Bitcoin. E agora se consegue.
Isso muda não somente a visão que devemos ter sobre o ativo, como também abre uma imensidão de usos para ele, de investimentos a empréstimos. E aqui não estou nem incluindo as stablecoins, que são uma página importante nesse processo.
Os experimentos que tenho acompanhado em DEFI devem tem um impacto disruptivo imenso em várias estruturas e conceitos econômico-financeiros que temos hoje. Temos a opção de ser atuantes nesse processo ou simplesmente entrarmos passivamente nele. De que lado você vai querer estar?
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