O ano de 2020 tem provocado inúmeras mudanças nos contratos e na distribuição dos direitos de televisão dos torneios de futebol. Depois de anos de domínio no mercado, a Rede Globo perdeu os direitos da Copa Libertadores, enquanto tem visto uma entrada no mercado pela entrada de outras mídias. Além disso, alguns clubes têm se mobilizado para conseguir mudar a atual lei brasileira e permitir que os direitos de exibição pertençam exclusivamente ao time mandante. Nos últimos anos e especialmente em 2020, a Rede Globo deixou de ter os direitos de transmissão para o Brasil de torneios como a Copa Sul-Americana e Recopa Sul-Americana, fora a Libertadores, mais recente aquisição do SBT. A emissora carioca também deixou de ter os direitos da Liga dos Campeões da Europa e iniciou renegociação com a Fifa sobre a exibição da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Sobre o Campeonato Brasileiro, a Globo viu no ano passado a entrada do Esporte Interativo e não tem contrato para a exibição do Athletico-PR na plataforma pay-per-view.
Diante de todo esse contexto, a MP 984 assinada pelo presidente Jair Bolsonaro em junho foi um novo fato para fazer o ano de 2020 ganhar um outro componente nos direitos de transmissão. O texto modificou o que era regulado pela Lei Pelé ao determinar que o direito da exibição da partida pertence ao mandante em vez de obrigar que os dois clubes envolvidos tenham contrato com uma mesma emissora para ser garantida a transmissão. Um movimento chamado “Futebol Mais Livre”, com a adesão de 12 times da Série A, quer que a MP seja transformada em lei. Até o momento fazem parte da mobilização: Athletico-PR, Atlético Goianiense, Bahia, Ceará, Coritiba, Flamengo, Fortaleza, Goiás, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e Vasco. Outras equipes que até então avaliavam a causa deixaram o movimento para se reaproximar da Globo, que é contra a chamada MP do Mandante. Corinthians e Atlético-MG, por exemplo, voltaram a ter uma relação mais amigável com a emissora justamente para terem o “naming rights” dos respectivos estádios citados. O Internacional tem negociado para renovar contrato com a Globo e foi outro a ter retomado conversas.
Na avaliação de especialistas, três fatores têm causado essa grande comoção nos bastidores entre clubes e Globo. Fora a própria MP assinada por Bolsonaro, o impacto do novo coronavírus nas finanças da emissora carioca e o surgimento de plataformas de streaming, como o DAZN, propiciaram essa grande revolução. “O que estamos vendo é uma redistribuição de forças, com a chegada de novos players”, avaliou o especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte, Bruno Maia, autor do livro Inovação é o Novo Marketing. Para Maia, a intensa movimentação não significa que todos os impactos serão positivos. “Nenhum dos contratos que a Globo perdeu até agora conseguiu atingir valores maiores em outras emissoras, pode-se dizer que o futebol brasileiro ‘matou’ a única receita fixa que ele tinha, optando por uma venda variável e realizando a transação em um momento conturbado economicamente”, explicou.
Segundo o advogado especialista em direito desportivo Eduardo Carlezzo, o fortalecimento do streaming teve um grande peso no contexto, além da própria situação econômica. “O impacto da pandemia nas finanças da Globo acelerou um processo de reestruturação de vários negócios. No futebol, a incerteza e insegurança que trouxeram a MP 984 aos contratos vigentes, precipitou uma forte reação de empresa para rediscutir ou encerrar prematuramente alguns contratos de transmissão”, disse. O fundador e diretor de criação da LMID e especialista em marketing esportivo Gustavo Herbetta também aposta que tais mudanças podem trazer prejuízo. “Não acho que a Globo esteja perdendo, quem está perdendo é o segmento futebol. A Globo está se readequando a ele, reagindo a um movimento com viés político sem nenhum planejamento, feito de maneira errada”, comentou.
*Com informações do Estadão Conteúdo